Situação “catastrófica” no Haiti já resultou na morte de mais de 1500 pessoas
ONU alerta que a disseminação da violência pelos gangues caribenhos está a deixar a população numa situação de enorme fragilidade. Crise política continua por resolver
TERROR Há cerca de um mês a enfrentar uma crise política e social, o Haiti está mergulhado numa situação “catastrófica”, descreveu ontem a ONU, que já contabilizou 1554 mortos no país caribenho só nos primeiros três meses do ano. Os gangues criminosos são o combustível que alimenta o caos de uma nação que, neste momento, se encontra sem Governo.
“É chocante ver que, apesar do horror da situação no terreno, as armas continuam a circular. Apelo a uma implementação mais eficaz do embargo de armas”, pediu o alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, na apresentação de um novo relatório sobre a situação no Haiti.
A violência no Haiti tem vindo a piorar, sobretudo no último mês. O país encontra-se em suspenso enquanto aguarda a formação de um Governo de transição depois de o primeiro-ministro Ariel Henry ter pedido a demissão a 11 de março. A queda do chefe de Governo teve como motivação a onda de violência que se disseminou no final de fevereiro, quando vários gangues nacionais se uniram para derrubar o líder.
Logo após a demissão do primeiro-ministro, foi criado um Conselho Presidencial de transição, que deverá representar as principais forças políticas do Haiti, bem como o setor privado, a sociedade civil e a comunidade religiosa. Prevê-se que seja composto por sete membros com direito de voto e dois observadores, mas ainda não há fumo branco. Embora ainda não tenha sido oficialmente criado, o conselho emitiu anteontem o primeiro comunicado, no qual prometeu restabelecer a ordem constitucional.
“Juntos, vamos pôr em prática um plano de ação claro destinado a restabelecer a ordem pública e democrática”, afirmaram os membros deste organismo, em comunicado. “Assim que estiver instalado, o Conselho Presidencial nomeará um primeiro-ministro, com o qual formará um Governo de União Nacional e recolocará o Haiti no caminho da legitimidade”, acrescenta o documento.
RECLUSOS LIBERTADOS
Um dos grandes desafios do próximo Executivo será controlar o elevado índice de criminalidade do país. Os gangues armados do Haiti, que controlam áreas inteiras do território, incluindo 80% da capital Port-au-Prince, aproveitaram que o primeiro-ministro estava fora para uma viagem ao Quénia para atacarem várias infraestruturas, incluindo esquadras de polícia e escritórios governamentais. Além disso, duas das maiores prisões do Haiti foram invadidas pelos criminosos, o que originou a fuga de mais de três mil reclusos.
A libertação dos prisioneiros – muitos deles líderes das organizações criminosas – impulsionou uma escalada de violência que fez com que milhares de pessoas se deslocassem das suas terras. Os frequentes ataques armados resultaram na morte de várias pessoas, sendo que, ao longo das últimas semanas, muitos corpos foram sendo encontrados ao abandono. A população vive com medo constante de raptos e extorsões e não tem muito para comer.
A UNICEF também já alertou que a situação humanitária no Haiti pode resultar na morte de “inúmeras crianças” especialmente por falta de cuidados de saúde e nutrição. A diretora executiva para a infância da agência, Catherine Russell, lembrou que “os bens vitais” estão prontos para serem entregues caso “a violência acabe e as estradas e os hospitais sejam reabertos”.