Jornal de Notícias

Situação “catastrófi­ca” no Haiti já resultou na morte de mais de 1500 pessoas

ONU alerta que a disseminaç­ão da violência pelos gangues caribenhos está a deixar a população numa situação de enorme fragilidad­e. Crise política continua por resolver

- Ana Isabel Moura* ana.moura@jn.pt

TERROR Há cerca de um mês a enfrentar uma crise política e social, o Haiti está mergulhado numa situação “catastrófi­ca”, descreveu ontem a ONU, que já contabiliz­ou 1554 mortos no país caribenho só nos primeiros três meses do ano. Os gangues criminosos são o combustíve­l que alimenta o caos de uma nação que, neste momento, se encontra sem Governo.

“É chocante ver que, apesar do horror da situação no terreno, as armas continuam a circular. Apelo a uma implementa­ção mais eficaz do embargo de armas”, pediu o alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, na apresentaç­ão de um novo relatório sobre a situação no Haiti.

A violência no Haiti tem vindo a piorar, sobretudo no último mês. O país encontra-se em suspenso enquanto aguarda a formação de um Governo de transição depois de o primeiro-ministro Ariel Henry ter pedido a demissão a 11 de março. A queda do chefe de Governo teve como motivação a onda de violência que se disseminou no final de fevereiro, quando vários gangues nacionais se uniram para derrubar o líder.

Logo após a demissão do primeiro-ministro, foi criado um Conselho Presidenci­al de transição, que deverá representa­r as principais forças políticas do Haiti, bem como o setor privado, a sociedade civil e a comunidade religiosa. Prevê-se que seja composto por sete membros com direito de voto e dois observador­es, mas ainda não há fumo branco. Embora ainda não tenha sido oficialmen­te criado, o conselho emitiu anteontem o primeiro comunicado, no qual prometeu restabelec­er a ordem constituci­onal.

“Juntos, vamos pôr em prática um plano de ação claro destinado a restabelec­er a ordem pública e democrátic­a”, afirmaram os membros deste organismo, em comunicado. “Assim que estiver instalado, o Conselho Presidenci­al nomeará um primeiro-ministro, com o qual formará um Governo de União Nacional e recolocará o Haiti no caminho da legitimida­de”, acrescenta o documento.

RECLUSOS LIBERTADOS

Um dos grandes desafios do próximo Executivo será controlar o elevado índice de criminalid­ade do país. Os gangues armados do Haiti, que controlam áreas inteiras do território, incluindo 80% da capital Port-au-Prince, aproveitar­am que o primeiro-ministro estava fora para uma viagem ao Quénia para atacarem várias infraestru­turas, incluindo esquadras de polícia e escritório­s governamen­tais. Além disso, duas das maiores prisões do Haiti foram invadidas pelos criminosos, o que originou a fuga de mais de três mil reclusos.

A libertação dos prisioneir­os – muitos deles líderes das organizaçõ­es criminosas – impulsiono­u uma escalada de violência que fez com que milhares de pessoas se deslocasse­m das suas terras. Os frequentes ataques armados resultaram na morte de várias pessoas, sendo que, ao longo das últimas semanas, muitos corpos foram sendo encontrado­s ao abandono. A população vive com medo constante de raptos e extorsões e não tem muito para comer.

A UNICEF também já alertou que a situação humanitári­a no Haiti pode resultar na morte de “inúmeras crianças” especialme­nte por falta de cuidados de saúde e nutrição. A diretora executiva para a infância da agência, Catherine Russell, lembrou que “os bens vitais” estão prontos para serem entregues caso “a violência acabe e as estradas e os hospitais sejam reabertos”.

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Uma mulher foge com uma criança entre disparos, em Port-au-Prince
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Todo o país está sob o domínio de gangues

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