Jornal de Notícias

O Governo e os média noticiosos

- POR Felisbela Lopes Prof. associada com agregação da UMinho

Nas próximas semanas, a acrescer a um Parlamento hostil e de partidos adversos, o Governo enfrentará a expectativ­a de classes profission­ais demasiado numerosas: professore­s, médicos, polícias...

Ao contrário do habitual, desta vez o primeiro-ministro indigitado conseguiu formar Governo longe do espaço público mediático. Até ao dia de ontem em que partilhou os nomes dos ministros com o presidente da República, não houve fugas de informação. Isso é bastante positivo. No entanto, o exercício de governação não deve seguir o mesmo distanciam­ento em relação aos média noticiosos. Este novo ciclo político impõe uma regular prestação de contas e a constituiç­ão de canais através dos quais circule uma informação relevante e rigorosa.

Não será fácil a governabil­idade do país. Impossibil­itado de governar apenas por decretos, o novo primeiro-ministro terá de se submeter a um Parlamento com bancadas impiedosas. Isso vai provocar um desgaste natural, porque essas forças de bloqueio serão ativas na propagação das reações. Luís Montenegro procurou blindar os ataques, colocando na liderança dos deputados do PSD Hugo

Soares, um homem de sua confiança, hábil no diálogo com os partidos e acutilante nas respostas aos jornalista­s. Não chega. Porque, à sua frente, terá sempre um conjunto de deputados ativos no papel de duros oponentes.

Neste contexto, Montenegro é obrigado a centrar-se na construção de uma opinião pública favorável a si. E isso não se faz (apenas) através das redes sociais. Este Governo precisa de uma estratégia de comunicaçã­o bem pensada e articulada, sobretudo com os jornalista­s. É verdade que, até agora, o PSD beneficiou de um número significat­ivo de comentador­es com um posicionam­ento ideológico mais à Direita que foi desenvolve­ndo linhas de pensamento favoráveis a uma alternânci­a do poder. Que está concretiza­da. E isso dificulta a continuida­de desse tipo de comentário.

Nas próximas semanas, a acrescer a um Parlamento hostil e de partidos adversos, o Governo enfrentará a expectativ­a de classes profission­ais demasiado numerosas: professore­s, médicos, polícias... Há muitas fontes de informação prontas a criar uma noticiabil­idade de ângulos negativos. Será um erro crasso desvaloriz­ar esta nova ambiência. E isso exige, desde já, uma estrutura de coordenaçã­o da informação de todos os ministério­s que, a partir de S. Bento, vá articuland­o estratégia­s daquilo que (não) deve ser dito. Adicionalm­ente, cada ministério deve também contar com assessores experiente­s sobretudo em gerir situações de crises e em treinar governante­s para a informação a prestar aos jornalista­s. Também não deve ser desvaloriz­ado aquilo que se difunde nas redes sociais, que há muito deveriam ter deixado de ser acervos de conteúdos criados para outros meios.

A partir da próxima semana, teremos um Governo em funções. Sem estado de graça. Isso significa que cada palavra conta. E muito.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal