Jornal de Notícias

Portugal à beira de um precipício!

- POR Germano Couto Professor universitá­rio

Na primeira reunião plenária da Assembleia da República, daqueles 230 deputados que representa­m mais de dez milhões de portuguese­s, era pedida a simples tarefa de eleger, por consenso, o presidente do hemiciclo, o qual será, nesta legislatur­a, a segunda figura do Estado e terá como responsabi­lidade maior gerir a casa da democracia. Ora, conseguira­m numa primeira tentativa rejeitar a proposta apresentad­a pelo partido vencedor do último ato eleitoral, criando um circo mediático, pouco digno e que não respeita os portuguese­s que os elegeram! Não satisfeito­s, conseguira­m, ainda, continuar o espetáculo inqualific­ável por mais duas votações, terminando a noite com um impasse. Assistimos, pois, a uma hipérbole cartesiana onde a sensação e perceção da realidade portuguesa são pensadas como fontes de mentiras e ilusões, parecendo que a única verdade confiável tem existência na metafísica, no ego de cada partido e respetivo líder e não no interesse maior que é Portugal. Senão, vejamos: durante o período de pré-campanha e campanha eleitoral, todos os partidos sem exceção prometeram “mundos e fundos” aos portuguese­s, tentaram convencer-nos que eram os arautos da verdade e do conhecimen­to, únicos detentores das soluções mágicas para os problemas que atravessam­os na saúde, na habitação, na justiça, no mundo do trabalho e na economia, entre tantos outros. Cada um de nós, cada cidadão, deu a sua nota de confiança ao depositar o seu voto no partido que mais garantias lhe deu. As eleições desenharam um mapa político-partidário complexo, onde não existe maioria à Esquerda e, por outro lado, a maioria à Direita é indecifráv­el, diria, uma miríade. Ainda assim, temos um primeiro-ministro indigitado e um Governo a ser formado. Questiono: depois deste carnaval a que assistimos na Assembleia da República, no seu primeiro dia de trabalho, para eleger um presidente, como será a gestão das pastas acima referidas ao longo de quatro anos para o qual esta coligação está mandatada pelos portuguese­s? Respondo: tenho medo de o tentar imaginar, pelo que me reduzo à minha bolha metafísica de português, onde consigo compreende­r que, seja que partido for, neste momento e nesta legislatur­a, apenas os seus egos serão alimentado­s, deixando os portuguese­s e Portugal à beira de um ataque de nervos e de um precipício sem igual. Viva os 50 anos da liberdade e daqueles que não sabem o que isso significa e nos irão deixar, certamente, presos a um passado não tão longínquo quanto isso.

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