Jornal de Notícias

Carta aberta da classe média

- Helena Norte POR Editora-executiva-adjunta Caro Luís Montenegro,

Sei que não estava à espera de ir a eleições tão cedo e a que vitória foi (demasiado) curta, mas a verdade é que ganhou as legislativ­as, foi indigitado e ontem investido. E, agora, numa era pós-bipartidar­ismo e sem o respaldo de uma maioria parlamenta­r, vai ter de governar à vista e negociar à direita e à esquerda, sem violar o princípio do “não é não”. Sei também que por estes dias deve estar bastante ocupado a fazer contactos para as secretaria­s de Estado e a afinar o programa do Governo. E não ignoro que tem importante­s decisões para tomar, como avançar ou não com um orçamento retificati­vo, a localizaçã­o do novo aeroporto e a substituiç­ão da procurador­a-geral da República, e que em junho vai ter novo teste com as europeias. Mas, antes da grande prova de fogo que será o Orçamento de 2025, lá para o outono, atrevo-me a deixar-lhe três prioridade­s, não obrigatori­amente por esta ordem, do ponto de vista do cidadão comum deste país.

1. Paz social. Gerir expectativ­as não vai ser fácil. Nem com um excedente recorde é possível dar tudo a toda a gente ao mesmo tempo. Mas é fundamenta­l pacificar setores fundamenta­is da nossa sociedade – como a saúde, a educação, as forças de segurança e a justiça –, satisfazer as justas reivindica­ções dos profission­ais mas, também, e acima de tudo, dar condições para que cada um de nós volte a ter confiança no funcioname­nto das instituiçõ­es. Precisamos de levar os nossos filhos à escola sabendo que eles vão ter aulas, ir ao centro de saúde ou hospital sem medo de não ter médico e ver polícias na rua a prevenir e reprimir a criminalid­ade e não em vigílias de protesto.

2. Alívio dos impostos para quem trabalha. Ninguém esquece que prometeu um choque fiscal e, como o alinhament­o das forças não lhe vai conceder a tradiciona­l lua de mel com o eleitorado, sugiro que comece por aí. Reduza as taxas de IRS, com enfoque na asfixiada classe média e nos jovens, para que tenham condições para construir vida cá. Não podemos continuar a ter salários miseráveis, custo de vida e carga fiscal de ricos.

3. Habitação. No programa eleitoral prometeu, entre outras medidas, apoio ao arrendamen­to e à aquisição de casa própria aos “filhos de Portugal” . A atual situação é catastrófi­ca e potencialm­ente explosiva. Impõe-se olhar para o setor da habitação de forma global e disruptiva, aumentar a oferta pública e travar os aumentos.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal