Jornal de Notícias

Cidadãos unem-se para lembrar mortos pela PIDE

Quatro jovens foram alvejados no 25 de Abril num protesto pela rendição da polícia política

- Inês Malhado jnes.malhado@jn.pt

A pedido de um grupo de cidadãos, a memória dos únicos civis mortos naquela que é conhecida como a revolução sem sangue será mantida viva numa nova placa que irá substituir a que se encontra na fachada do n.º 22 da Rua António Maria Cardoso, em Lisboa. O momento será assinalado hoje numa cerimónia simbólica da Câmara Municipal de Lisboa, pelas 11 horas, na antiga sede da PIDE/DGS.

Na noite de 25 de Abril de 1974, uma multidão concentrou-se em frente à sede da PIDE, na capital, exigindo a rendição da polícia política do Estado Novo. Mas os agentes que se encontrava­m dentro do edifício abriram fogo pelas janelas. Fernando Giesteira, José Barneto, João Arruda e Fernando Reis são os nomes dos quatro jovens que tinham entre 17 e 38 anos quando foram assassinad­os pela PIDE/DGS ao final do dia do golpe militar que pôs fim à ditadura.

CÓDIGO PARA BIOGRAFIAS

“A memória é estática porque deixa marcado o que aconteceu, mas também é dinâmica no sentido em que devemos retirar aprendizag­ens para reconhecer os ataques à liberdade e não cometer os mesmos erros do passado”, sublinhou, ao JN, Eurico Reis, fundador e presidente do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória (NAM), que, desde 2005, tem apelado à preservaçã­o do que foi a resistênci­a antifascis­ta. O responsáve­l explicou que a iniciativa surgiu novamente da vontade dos cidadãos. Foi o jornalista e escritor Pedro Vieira que lançou o último abaixo-assinado entregue à autarquia, tendo pedido o apoio do NAM para se juntar enquanto “uma força de pressão” para que o projeto se concretiza­sse após várias tentativas ao longo dos anos.

Na nova placa, as imprecisõe­s nos nomes de duas das vítimas “que se impunham resolver” foram corrigidas. A novidade é que passa a ter um QR Code que pode ser lido através do telemóvel e remete para as biografias destas vítimas no site do Museu do Aljube, explicou, ao JN, a diretora municipal de Cultura, Laurentina Pereira. “Essas pessoas vão ser mais do que nomes, vão ser vidas.”

A responsáve­l saudou também o facto de esta “homenagem digna” às vidas que se perderam, que se insere nas comemoraçõ­es do cinquenten­ário do 25 de Abril, ser resultado de um trabalho a várias mãos, entre o município e um conjunto de cidadãos que “interpelou a Câmara por mais de uma vez” já há algum tempo . Este sistema digital também foi integrado nas novas 25 placas espalhadas pelos diversos locais associados à ação do Movimento das Forças Armadas no dia da revolução, num projeto da Associação 25 de Abril, em parceria com a autarquia.

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No dia 25 de Abril de 1974, sede da PIDE foi cercada

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