Carrinha carregada de notas tinha milhões de “Xuxas”
Rede de narcotráfico de Ruben Oliveira com ligações a máfias brasileiras e colombianas começou ontem a ser julgada em Lisboa
O Ministério Público tem milhares de mensagens intercetadas pelas autoridades francesas em servidores encriptados e comprometedoras para elementos da poderosa rede de narcotráfico liderada em Portugal por Ruben Oliveira (“Xuxas”) que ontem começou a ser julgada em Lisboa. O processo tem 16 arguidos singulares e três empresas.
Entre estas mensagens, apurou o JN, estarão conversas sobre a apreensão pela Polícia Judiciária de 12 milhões de euros em Lisboa, em 2020, numa carrinha que pertencia a Sérgio Roberto Carvalho, tido como o patrão de Ruben e conhecido como o “Escobar brasileiro”. Desse valor, cinco milhões pertenceriam a Ruben Oliveira e seriam proveitos da atividade criminosa.
Este será um dos elementos que denunciam a dimensão do esquema supostamente liderado por “Xuxas”, com ligações a organizações criminosas como o Comando Vermelho, no Brasil, e o Cartel de Medellín, na Colômbia, segundo a investigação. Roberto
Ruben quer falar
Ruben Oliveira identificou-se ao tribunal como empresário do ramo de táxis e pastelaria e afirmou que quer falar, não no início, mas ao longo do julgamento e à medida que a prova é produzida.
Droga por mar e ar
A organização de “Xuxas” tinha, diz a acusação, ramificações nos portos de Setúbal e Leixões e no aeroporto de Lisboa que facilitava a entrada da droga.
Carvalho acabou por ser detido em Budapeste, Hungria, em junho de 2022, uma semana antes da detenção de Ruben nos Olivais, em Lisboa.
Ontem, no início do julgamento, depôs Gurvinder Singh, comerciante nos Olivais e arguido no processo por ter importado, em nome da sua empresa Happy Selection, 354 quilos de cocaína dissimulados em fruta, em 2022. Disse que está inocente e que foi usado pela rede. Foi detido quando transportava o produto entre o aeroporto e o seu armazém, em Odivelas.
Contou ainda que conhe
cia Rúben desde 2009 e que este lhe apresentou em 2021 um importador de fruta brasileira, Luís Ferreira. “Aceitei fazer duas encomendas de papaia em dezembro de 2021, que vendi nos meus supermercados e no mercado abastecedor, mas nada mais”, afirmou. Contou também que, na data da apreensão da cocaína, foi convencido por outro arguido, José Cabral, a levantar no aeroporto uma encomenda que não fez, por ser a um bom preço, e que já na sua posse, recebeu de Ruben uma mensagem para fugir. “Achei estranho e apaguei a mensagem.”