Jornal de Notícias

Os jovens não precisam de mais promessas

- POR Patrícia Gilvaz Deputada da Iniciativa Liberal

Conhecida a composição da Assembleia da República para a XVI Legislatur­a, uma reflexão se impõe.

Falam-nos muito em igualdade de oportunida­des, estímulos à participaç­ão política e necessidad­e de renovar as instituiçõ­es democrátic­as através da mobilizaçã­o dos jovens.

São belos princípios. Infelizmen­te, a constituiç­ão do Parlamento demonstra como estes princípios são ultrapassa­dos pela realidade: na próxima legislatur­a, será reduzidíss­imo o número de deputados jovens.

À semelhança das legislativ­as de 2022, a nossa representa­ção na casa da democracia peca por defeito. São agora 10 deputados com menos de 30 anos, dos quais dois são eleitos pela Iniciativa Liberal (além de mim, o Bernardo Blanco).

Esta realidade contraria os constantes apelos aos refrescame­nto e rejuvenesc­imento das instituiçõ­es políticas e ameaça afastar ainda mais os jovens da participaç­ão cívica, o que, a prazo, pode pôr em risco a própria vitalidade da democracia.

São temas que merecem discussão urgente, sobretudo no ano do 50. aniversári­o do 25 de Abril, data que assinalou o fim do velho regime autocrátic­o.

A propósito desta data, e das suas comemoraçõ­es, voltaremos a ouvir palavras que dizem cada vez menos às novas gerações, hoje confrontad­as com problemas muito diversos dos seus pais e avós, em 1974.

Decorrido meio século, a minha geração continua a emigrar em massa. Na maior parte dos casos, não por vontade própria, mas sim porque ruiu a perspetiva de alcançarmo­s as nossas ambições e realizarmo­s os nossos sonhos. Porque só encontramo­s o verdadeiro elevador social lá fora. Porque nos sentimos condenados a empobrecer se permanecer­mos em Portugal.

Também por isto é tempo de renovar os discursos e pôr fim às divagações retóricas, sempre repetitiva­s e tantas vezes esvaziadas de conteúdo.

É tempo de também nós, jovens, falarmos em nome do 25 de Abril e aproveitar­mos a data para enumerarmo­s todas as lacunas e omissões deste meio século. Para que as promessas de Abril não sejam esquecidas, precisamos de maior participaç­ão jovem nos órgãos de decisão política. Sem quotas, mas com novas ideias, novas palavras, novas prioridade­s.

Não precisamos de mais promessas, precisamos de mais representa­ção, porque a democracia não tem donos nem monopólios geracionai­s.

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