Os jovens não precisam de mais promessas
Conhecida a composição da Assembleia da República para a XVI Legislatura, uma reflexão se impõe.
Falam-nos muito em igualdade de oportunidades, estímulos à participação política e necessidade de renovar as instituições democráticas através da mobilização dos jovens.
São belos princípios. Infelizmente, a constituição do Parlamento demonstra como estes princípios são ultrapassados pela realidade: na próxima legislatura, será reduzidíssimo o número de deputados jovens.
À semelhança das legislativas de 2022, a nossa representação na casa da democracia peca por defeito. São agora 10 deputados com menos de 30 anos, dos quais dois são eleitos pela Iniciativa Liberal (além de mim, o Bernardo Blanco).
Esta realidade contraria os constantes apelos aos refrescamento e rejuvenescimento das instituições políticas e ameaça afastar ainda mais os jovens da participação cívica, o que, a prazo, pode pôr em risco a própria vitalidade da democracia.
São temas que merecem discussão urgente, sobretudo no ano do 50. aniversário do 25 de Abril, data que assinalou o fim do velho regime autocrático.
A propósito desta data, e das suas comemorações, voltaremos a ouvir palavras que dizem cada vez menos às novas gerações, hoje confrontadas com problemas muito diversos dos seus pais e avós, em 1974.
Decorrido meio século, a minha geração continua a emigrar em massa. Na maior parte dos casos, não por vontade própria, mas sim porque ruiu a perspetiva de alcançarmos as nossas ambições e realizarmos os nossos sonhos. Porque só encontramos o verdadeiro elevador social lá fora. Porque nos sentimos condenados a empobrecer se permanecermos em Portugal.
Também por isto é tempo de renovar os discursos e pôr fim às divagações retóricas, sempre repetitivas e tantas vezes esvaziadas de conteúdo.
É tempo de também nós, jovens, falarmos em nome do 25 de Abril e aproveitarmos a data para enumerarmos todas as lacunas e omissões deste meio século. Para que as promessas de Abril não sejam esquecidas, precisamos de maior participação jovem nos órgãos de decisão política. Sem quotas, mas com novas ideias, novas palavras, novas prioridades.
Não precisamos de mais promessas, precisamos de mais representação, porque a democracia não tem donos nem monopólios geracionais.