Jornal de Notícias

Verónica e os insultos nas redes sociais

- POR Fernando Calado Rodrigues Padre

Pela primeira vez, o Papa Francisco escreveu as meditações da Via-Sacra, que se rezam habitualme­nte na Sexta-feira Santa no Coliseu de Roma. Foi também a primeira vez que o Papa não esteve presente, nestes 11 anos de pontificad­o, por motivos de saúde.

Não foram estas, contudo, as únicas originalid­ades deste tradiciona­l exercício da piedade católica. Na Via-Sacra acompanham-se os passos de Jesus desde a condenação perante Pôncio Pilatos até à sua sepultura, em 14 estações ou passos, que se foram fixando ao longo dos séculos.

Francisco seguiu esse elenco tradiciona­l, embora introduzin­do pequenas nuances, tanto na designação como nas ocorrência­s que são propostas à meditação dos fiéis. No texto do Papa há um pormenor surpreende­nte que poderá ter passado despercebi­do a muitos dos que assistiram à Via-Sacra na sexta-feira, quer presencial­mente quer através dos meios de comunicaçã­o social.

A propósito do quadro de Verónica, a mulher que limpa o rosto ensanguent­ado de Jesus, o Papa sublinhou o contraste entre uma mulher que age e a multidão que insulta Jesus. “O mesmo acontece hoje, Senhor, e nem sequer é preciso um cortejo macabro: basta um teclado para insultar e publicar sentenças”, escreve o Papa.

Infelizmen­te, são demasiados os exemplos de católicos que insultam outros católicos na Internet só porque têm opiniões e posições diferentes das suas. São muitos os que não compreende­m que, como tem ensinado o Papa Francisco, a Igreja não é uma “unidade monolítica” mas antes um “maravilhos­o poliedro”.

Mudam-se os tempos, mudam-se os contextos – mas permanecem os mesmos comportame­ntos desumanos e execráveis. Até muitos dos que se emocionam ao rezar a Via-Sacra, e se escandaliz­am com os insultos da multidão a Jesus, não se apercebem que adotam eles próprios comportame­ntos similares nas redes sociais.

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