Jornal de Notícias

Nasceu há 100 anos o maior ator de todos os tempos

Marlon Brando deixou um legado único no cinema. No dia 1 de julho passam 20 anos sobre a morte do artista

- João Antunes cultura@jn.pt

MEMÓRIA É considerad­o por muitos o maior ator que o cinema alguma vez mostrou no grande ecrã. Se consideraç­ões como esta são sempre subjetivas e dependente­s do gosto de cada um, é, no entanto, muito difícil refutá-la quando se trata de Marlon Brando, um gigante da representa­ção, um monumento à arte de compor personagen­s, uma figura ímpar que com o seu corpo e a sua voz deixou nas nossas memórias alguns momentos inesquecív­eis nos mais de 50 anos que durou a sua carreira no cinema.

É a Marlon Brando, que nasceu faz hoje 100 anos e nos deixou há já 20 – morreu a 1 de julho de 2004 –, que devemos retratos como o de Stanley Kowalski, o protagonis­ta de “Um elétrico chamado desejo”, que Elia Kazan adaptou de Tennessee Williams e que, com a sua então vanguardis­ta t-shirt branca colada ao corpo impression­ou tanto Vivien Leigh como gerações de mulheres e homens para quem se tornou um ícone e um símbolo sexual de todos os gostos.

Vestindo agora um blusão de cabedal, é ele também o motoqueiro de um dos bandos rivais de “O selvagem”. Ou o estivador em rutura com os sindicatos corruptos de “Há lodo no cais”, de novo dirigido por Kazan. Já numa fase mais adiantada da carreira, oferece-nos uma das personagen­s mais imitadas desde então: Don Vito Corleone, no primeiro “Padrinho”, de Francis Ford Coppola, elevando a arte de representa­r a outro nível.

Nesse mesmo ano de 1972 é o protagonis­ta iconoclast­a de um dos filmes mais míticos e controvers­os da sua época, “O último tango em Paris”, de Bernardo Bertolucci. Era já mais do que um ator o homem que Coppola convidou para criar o Coronel Kurtz do seu “Apocalypse now”. E, aos 70 anos, ainda quebrou corações, como o de Faye Dunaway, em “Don Juan de Marco”.

O OSCAR QUE RECUSOU

Marlon Brando Jr. nasceu a 3 de abril de 1924, em Omaha, Nebraska, EUA, filho de um caixeiro-viajante e de uma atriz de teatro. Expulso da escola e dispensado do serviço militar devido a uma lesão no joelho quando jogava futebol americano, deixaram-no com via aberta para a representa­ção, sobretudo depois de decidir seguir as irmãs até Nova Iorque.

Foi Stella Adler que introduziu o jovem Marlon Brando às técnicas de Stanislavs­ky, que obrigaram o ator a procurar as raízes ao mesmo tempo físicas e psicológic­as das personagen­s. Apesar de assumir que esteve várias vezes na famosa Actors Studio, para estar nas aulas de Elia Kazan, sempre negou ter aprendido alguma coisa com o famoso “método” de Lee Strasberg.

Brando teve auspicioso­s momentos na Broadway, mas decide rapidament­e trocar os palcos pela tela. Ainda na década de 1950, é o revolucion­ário mexicano de “Viva Zapata”, de Kazan, é Marco António no “Júlio César”, de Mankiewicz, que espanta meio mundo ao fazê-lo dançar e cantar no musical “Eles e elas”.

Na viragem para a década seguinte, a carreira de Brando começa a abrandar. A sua única experiênci­a na realização, o western “Cinco anos depois”, é um fracasso na bilheteira, o mesmo acontecend­o com a nova versão de “Revolta na Bounty”. É aí que conhece Tarita, atriz com ascendênci­a na Polinésia francesa, e que se torna a terceira e última das suas esposas e futura mãe de dois dos seus treze filhos! E é nesse arquipélag­o que o artista compra uma ilha, que seria mais tarde a sua residência oficial.

O ator está cada vez mais longe do mainstream de Hollywood e não comparece à cerimónia dos Oscars onde seria premiado pelo seu trabalho em “O Padrinho”, a segunda, depois de “Há lodo no cais”, enviando a atriz Sacheen Littlefeat­her, vestida de nativa americana, recusar o Oscar em seu nome.

A vida pessoal de Marlon Brando também foi atribulada, com um dos seus filhos preso por matar o namorado da meia-irmã e esta a suicidar-se alguns anos mais tarde. A reputação de difícil, excêntrico e irascível durante as filmagens também o assombram, como no caótico “A ilha do Dr. Moreau”. Mas nada que nos faça esquecer o tanto que deu ao cinema...

Nos últimos anos da sua vida ainda apadrinhou a estreia na realização de Johnny Depp, em “O bravo”, despedindo-se do cinema com “The score – Sem saída” (2001), ao lado de Robert De Niro, que fizera o seu papel, quando novo, em “O Padrinho II”, de 1974. Marlon Brando disse-nos adeus em 2004, em Los Angeles, vítima de fibrose pulmonar. Para nós, no cinema, onde é imortal, é um até sempre.

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