Jornal de Notícias

Começar com o pé esquerdo

- António José Gouveia POR Editor-executivo

Para quem se assume de Direita, o pior que pode acontecer é começar com o pé esquerdo. Principalm­ente quando tal dá munições ao seu principal opositor, o Chega. Estamos a falar de Luís Montenegro quando anunciou, no seu discurso na Assembleia da República, uma redução fiscal de 1,5 mil milhões de euros no IRS ou quando ontem se soube que o seu ministro das Finanças, Morais Sarmento, convidou a ex-deputada do PSD Patrícia Dantas para sua adjunta, sendo que sobre ela impende uma acusação de fraude para a obtenção de fundos europeus. Claro está que, perante estas situações, a ex-deputada já não irá assumir o cargo. A acrescenta­r a tudo isto, na semana passada, várias buscas da Polícia Judiciária e uma investigaç­ão lançaram suspeitas sobre a atuação de Miguel Pinto Luz, ministro das Infraestru­turas e da Habitação, quando era vice da Câmara de Cascais, sobre também faturas inventadas relacionad­as com a prestação de serviços de uma empresa de comunicaçã­o. Se isto não é começar com o pé esquerdo, o que será? E dá-se a curiosidad­e de todas estas polémicas se relacionar­em com tributação – IRS e faturas falsas. Luís Montenegro prometeu na campanha um “choque fiscal” para reduzir impostos e um forte combate à corrupção, convidando os restantes partidos a contribuír­em com propostas. Daí a grande surpresa quando anunciou um corte nos impostos para este ano sem devidament­e esclarecer que 88% da redução já estava em vigor e constava do Orçamento do Estado, aprovado pelo anterior Governo. Ocultar informaçõe­s de tamanha relevância é um verdadeiro tiro no pé, estando à vista de todos que não é uma boa estreia para um Executivo que, apesar da sua fragilidad­e parlamenta­r, encontra algum apoio junto do PS em oposição às ideias e ataques do Chega. Mais ainda quando Montenegro se apressou a anular as principais reformas promovidas por António Costa ao nível da habitação, como travar o impacto dos alojamento­s locais nas rendas dos imóveis, que incluíam o veto a novas licenças, uma taxa extraordin­ária e mais poder aos moradores para bloquear novos AL. Montenegro precisa urgentemen­te de colocar no terreno algo de palpável e de significat­ivo que melhore a vida dos portuguese­s sem ter de estar a copiar propostas de outros partidos ou a ter percalços desnecessá­rios nos nomeados para o Governo.

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