Jornal de Notícias

Exigida paridade também nos primeiros dois lugares

Ana Rita Dias fica no comando de Vila Pouca de Aguiar, um dos 11 concelhos com substituiç­ão do presidente Ex-secretária de Estado para a Igualdade e plataforma para os direitos das mulheres pedem alterações à lei para que possam ocupar cargos cimeiros

- Carla Soares carlas@jn.pt

APELOS As mulheres continuam a ser excluídas dos lugares cimeiros nas autarquias. E são, por norma, remetidas para os terceiros, sextos ou nonos lugares, denunciam especialis­tas nesta área, que defendem, por exemplo, a imposição da paridade nos dois primeiros nomes das listas.

Rosa Monteiro, ex-secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, que teve na sua alçada as novas leis da paridade em 2019, destacou ao JN que a inevitável negociação entre partidos no Parlamento deixou a legislação aquém do necessário. Foi garantida a paridade dos 40% em todas as autarquias. Mas lamenta que tenha ficado pelo caminho a proposta para que os dois primeiros lugares fossem também paritários. Uma alteração que, agora com a substituiç­ão dos autarcas eleitos nas legislativ­as, teria feito diferença, com mais mulheres a ocuparem presidênci­as. Mas os segundos lugares também continuam a ser domínio masculino e Rosa Monteiro critica a “síndrome do lugar das mulheres”. “Meteram na cabeça que têm de ter o terceiro, o sexto e o nono lugares”, criticou, consideran­do que os partidos “ainda não interioriz­aram o espírito da lei”. A seu ver, há que retomar o processo nesta legislatur­a para “tornar a lei ainda mais impositiva”.

PLATAFORMA PROPÕE 50%

Alexandra Silva, coordenado­ra de projetos na Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres, diz que “o cenário atual da lei da paridade continua a ser errado”. A estrutura defende uma paridade de 50%/50% (em vez de 40%) e lembra que as mulheres são cerca de 52% da população. Propõe “um sistema de ordenaA ção das listas 1+1, sucessivam­ente”. Ou seja, uma alternânci­a desde o primeiro lugar. Além disso, considera que essa paridade deve aplicar-se à liderança das candidatur­as: mulheres a encabeçar metade das listas de cada partido nos 308 municípios. Já as substituiç­ões na equipa seriam por pessoas do mesmo sexo. A investigad­ora nota que o problema está nas escolhas dos partidos e na ordenação das listas, numa lógica que assenta “em redes informais ainda muito masculiniz­adas”.

Mas os apelos vão para além das autárquica­s, com Alexandra Silva a sublinhar que na sequência das eleições para o Parlamento, mesmo com aplicação da lei da paridade, a presença de mulheres continua a descer. Diz que passou de 39% para 37% de 2019 para 2022, e agora ronda os 33%. Do mesmo modo, nota “alguma desvaloriz­ação” na ordenação dos ministros.

propósito, explica que há uma descida do segundo lugar (a ministra da Presidênci­a em 2019, Mariana Vieira da Silva) para o sétimo em 2022 (ministra dos Assuntos Parlamenta­res, Ana Catarina Mendes). Agora, regista a queda para o 15.º, com a ministra da Juventude e Modernizaç­ão, Margarida Balseiro Lopes.

Mas os reparos são também ao programa de Governo porque, apesar das medidas dispersas e da preocupaçã­o com temas como disparidad­e salarial e violência doméstica, o capítulo sobre “Diversidad­e, Inclusão e Igualdade” é o último.

Para a investigad­ora, faltam medidas estruturai­s que “alterem o statu quo”. Nas câmaras, critica os “estereótip­os” que atribuem às mulheres áreas mais sociais e aos homens pastas como urbanismo. Nota, aliás, que saem das universida­des mais mulheres arquitetas do que homens.

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Rosa Monteiro critica a “síndrome do lugar das mulheres”, que têm ficado em “terceiro, sexto e nono lugar”

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