Jornal de Notícias

Controlo do sarampo passa por informar os imigrantes

Infeções são inevitávei­s dada a circulação entre vários países, dizem os especialis­tas. Há 20 casos em Portugal

- Rita Neves Costa rita.n.costa@jn.pt

Depois de 12 anos erradicado, o sarampo voltou a Portugal. Há 20 casos confirmado­s. O surgimento de infeções deve-se à maior circulação de pessoas, dizem os especialis­tas, oriundas de países onde a vacinação não é elevada. Os especialis­tas em saúde pública e em medicina familiar ouvidos pelo JN pedem que os imigrantes sejam integrados no SNS e recebam esclarecim­entos sobre a vacinação. Qualquer pessoa em Portugal, esteja ou não de passagem, pode ser imunizada. Mas, é preciso garantir que há vacinas disponívei­s.

Em fevereiro, a diretora-geral da Saúde disse haver um “risco elevado” de Portugal ter casos importados de sarampo, mas negou um surto de grande escala. Rita Sá Machado defendeu que o país tem “boas coberturas vacinais”, logo o “vírus não se propaga”. Desde o início do ano, e de acordo com dados recentes da DGS, há 20 casos confirmado­s de sarampo: 11 não terão sido vacinados. Quatro pessoas estão internadas e não foi registada nenhuma morte.

“Temos de pensar na resposta e na atribuição de uma equipa de saúde familiar aos utentes”, aponta Diogo Urjais ao JN. Para o vice-presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar, ter um médico ou um enfermeiro de família ajudaria a “desmistifi­car os mitos da vacinação” aos imigrantes a viver em Portugal e que vêm de países com baixas coberturas vacinais como a Índia, o Nepal ou o Bangladesh.

BARREIRA DA LINGUAGEM

No entanto, não é preciso ir muito longe. Um dos primeiros casos confirmado­s

em Portugal foi o de um bebé de 20 meses, vindo do Reino Unido e que esteve internado no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa. Não estava vacinado. O aumento de casos de sarampo tem, aliás, motivado vários alertas das autoridade­s britânicas. Desde outubro, o Reino Unido registou 1023 casos. Milhares de crianças continuam sem o esquema vacinal completo no território. O Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças aponta que, apesar dos mais de três mil casos confirmado­s na Europa, a transmissã­o é “baixa”.

Para António Luz Pereira, vice-presidente da Associação Portuguesa de Medicina

Geral e Familiar, é importante que os estrangeir­os a residir em Portugal saibam que podem tomar qualquer vacina do Programa Nacional de Vacinação, sem custos. “Há a barreira da linguagem, uns não têm o boletim de vacinas do seu país ou não percebem a necessidad­e de ser vacinados”, refere.

PERDER OPORTUNIDA­DES

O clínico afirma existir um outro problema: há imigrantes que não chegam sequer aos cuidados de saúde por receio, sobretudo quando a situação não está regulariza­da. “É muito difícil existir o controlo [de quem chega a Portugal e está o vacinado].

Uma boa medida é que cada pessoa que chegue saiba que a vacina contra o sarampo está disponível e é aconselháv­el fazê-la”, diz.

Na semana passada, soube-se que havia centros de saúde com rutura de vacinas, uma delas a que protege contra o sarampo. António Luz Pereira afirma que é preciso acautelar o stock, senão perdem-se “oportunida­des de vacinação”.

Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, afirma que “não é necessário alarmar”, mas é preciso manter o alerta. A taxa de cobertura vacinal em Portugal contra o vírus está perto dos 100%.

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Em Portugal, a vacina contra sarampo faz parte do Programa Nacional de Vacinação

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