Jornal de Notícias

Memórias de uma casa familiar com “garra e coração”

Uma enfermeira e uma administra­tiva, duas das mais antigas funcionári­as, recordam o que mudou

- Inês Schreck ines@jn.pt

TESTEMUNHO­S Irene e Cecília percorrem os corredores do IPO do Porto há mais de 40 anos. São das funcionári­as mais antigas da instituiçã­o, assistiram a um cresciment­o que nunca imaginaram e é com o coração apertado que preparam a despedida, já no próximo verão.

Cecília Soares entrou ao serviço em 1980, por coincidênc­ia no mesmo edifício que a verá reformar-se. Chegou num grupo de 40 colegas, com o bacharelat­o em enfermagem acabado de concluir e “nenhuma formação em oncologia”. “Vínhamos às cegas, mas havia um centro de formação muito bom”, recorda, notando que a formação dos profission­ais sempre foi uma aposta do instituto.

Ao longo dos anos, passou por vários serviços, fez estágios, absorveu tudo quanto lhe deram e está a devolver à casa essa aprendizag­em. Participou nas primeiras normas para standardiz­ar a prática de enfermagem e começou em 2004 a estruturar o manual de normas e procedimen­tos técnicos de enfermagem, que ainda vigora, com atualizaçõ­es a cada três anos. Enfermeira no hospital de dia, por onde passam entre 250 a 300 doentes por dia, Cecília Soares recua no tempo para falar do que mudou. Quase tudo. A dimensão do espaço, a quantidade de doentes em tratamento, as diferenças no tipo de doente. “Eram mais velhos, vinham do mundo rural e havia muita iliteracia”, diz.

Os tratamento­s e as cirurgias estavam a léguas de hoje, “deixavam os doentes mutilados” e com muitas reações adversas. A inovação deixou tudo isso para trás, o perfil de doente mudou e a faixa etária baixou muito. “Agora, os doentes são cada vez mais jovens e isso é o que mais me custa, porque todos temos filhos e sobrinhos e é difícil não relacionar”, confessa.

DEDICAÇÃO

Retornada de Moçambique no pós-25 de Abril, Irene Amorim entrou no IPO em 1981 como empregada geral na lavandaria. E foi com a farda azul que se apresentou na primeira entrevista para o secretaria­do do conselho de administra­ção. Secretario­u todas as direções, incluindo a de Guimarães dos Santos – “o farol” que geriu o instituto com “garra e coração” e deixou marcas para sempre. De lá para cá, dedicou-se “de alma e coração” à casa e recentemen­te descreveu a sua história em verso. Quando entrou, Irene avisou que só sairia aos 70 anos. E cumpriu.

“Começou tão pequeno e sem alarido uns dias antes da Revolução. O atual presidente ainda não tinha nascido quando o IPO Porto apareceu como Instituiçã­o!”

“E veja-se a dimensão atual desta minha e nossa Casa que para tantos é muito especial e que em prestígio muitos hospitais arrasa”

Irene Amorim Versos feitos para o 50.º aniversári­o do IPO do Porto

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