Jornal de Notícias

Habitar a cidade

- José A. Rio Fernandes POR Geógrafo/Prof. da Universida­de do Porto

A cidade deve ser o lugar de todos. Mas houve segregaçõe­s religiosas: judiarias, como no Olival, no Porto; mourarias, como em Lisboa; e segregaçõe­s raciais também, um pouco por todo o Mundo; entre outras. Foram diminuindo. Para isso contribuír­am a educação e os avanços nas políticas sociais, com grandes investimen­tos públicos, designadam­ente na habitação, o que ocorreu com especial intensidad­e depois do fim da Segunda Grande Guerra. Em Portugal, teve um grande marco no bloco Duque de Saldanha (1940), no Porto, primeiro exemplo de habitação coletiva de renda apoiada no nosso país.

Hoje, pela economia, a segregação reforça-se. Quem vive nas nossas cidades? Os proprietár­ios (que veem os seus imóveis ganhar valor) e os poucos que resistem com rendas de outro tempo. A estes, somam-se os turistas, habitantes por dias, e os trabalhado­res muito bem pagos que ficam meses ou escassos anos. Quem mais consegue arrendar um T1, por mais de mil euros por mês, durante anos? Ou comprar, senão os muito ricos?

Dizem uns que falta construção, apesar de os números mostrarem que há muito mais alojamento­s que famílias e vermos casas vazias; outros que a culpa é do turismo, apesar de criarem riqueza e todos gostarmos de ser turistas. Insisto: falta política! O Governo e os municípios continuam a pensar que o essencial é criar riqueza, apesar do custo da habitação tornar os salários, mesmo que maiores, miseráveis para quem quer uma casa e filhos, levando muitos à emigração. Entretanto, pela intensidad­e e forma como muda, a cidade perde-se. Vale (muito) a pena pensar como se pode “Habitar (n)a cidade”. É esse o tema de sessões abertas que ocorrem amanhã e sexta na Casa de Juventude de Braga, com convidados de luxo. Veja em p3dt2024.weebly.com e, se puder, apareça.

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