Lisboa discute hoje subida da taxa turística para quatro euros
Autarquia quer cobrar o valor mais elevado do país por noite para quem visita a capital. Porto também prevê aumento para breve e Gaia já o fez no ano passado
Lisboa prepara-se para aplicar a taxa turística mais elevada do país e uma das mais altas da Europa, tendo a Câmara a intenção de a subir de dois para quatro euros por noite. A proposta para a alteração do valor, que deverá variar consoante o tipo de alojamento, vai ser discutida hoje, em reunião do executivo, e, após ser aprovada, estará em consulta pública um mês. O Porto também prevê subir a taxa em breve. A Associação de Hotelaria de Portugal e a Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve estão apreensivas quanto ao uso das receitas.
Cada vez mais municípios cobram taxa turística, sendo Portimão e Olhão dois dos exemplos mais recen- tes. Outros se seguirão em breve, como Viana do Castelo, Albufeira, Lagoa e Loulé. Gaia aumentou o valor no ano passado, e Lisboa e Porto seguirão o mesmo caminho. A maior subida está prevista para Lisboa, onde a autarquia pretende duplicar o valor, disse ontem o presidente do executivo, Carlos Moedas, defendendo que “os turistas têm de contribuir mais para a cidade”.
Em 2022, entraram 906 navios de cruzeiro nos principais portos nacionais, tendo sido Lisboa o que recebeu o maior número navios (325) e o maior número de passageiros em trânsito (406,6 mil)
MEDIDA EXTEMPORÂNEA
O anúncio não foi, contudo, bem recebido por algumas associações. Bernardo Trindade, presidente da Associação de Hotelaria de Portugal, afirmou, em comunicado, que “a medida unilateral e extemporânea de aumentar a taxa é precipitada e interrompe uma relação de confiança com o setor turístico”. O também administrador de uma cadeia de hotéis frisou que “é fundamental que este dinheiro não seja usado em despesas correntes e saber-se os fins a que se destina”.
Receios também partilhados por Hélder Martins, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve. “A nossa questão é o que as câmaras vão fazer com o dinheiro da taxa. Dizem que têm custos muito grandes na área da salubridade, mas também têm receitas brutais derivadas do IMI e IMT devido ao turismo. Era bom que o dinheiro fosse canalizado apenas para áreas de impacto direto do turismo”, defendeu ao JN, acrescentando que estas alterações devem ser feitas “com mais tempo”. “Em Portimão, o valor começou a ser cobrado no dia em que foi publicada a alteração, sem esclarecimento às empresas”, censura.
Carla Salsinha, presidente da Entidade de Turismo da
Região de Lisboa, disse ao JN que “concorda” com a su- bida da taxa desde que “seja muito transparente e mensurável” e “reverta para a cidade”. “Temos de saber o valor que recebemos e onde foi aplicada. O valor tem de ser usado na higiene urbana e segurança, requalificação do espaço público e monumentos e melhoria da mobilidade”, considera.
NÃO AFASTARÁ TURISTAS
A empresária acredita que o aumento “não reduzirá o número de turistas”. “Paris tem taxas de 16 euros e isso não tem levado à descida de turistas. É também uma forma de classificarmos o turismo; Lisboa só beneficia se tivermos um turismo de qualidade”, defende. Hélder Martins tem a mesma opinião e, alerta, “no caso do Algarve, se uma família trouxer cinco pessoas, o preço do apartamento pode aumentar 30% ou 40%”.