Jornal de Notícias

Linchament­os de liberdade

- Manuel Molinos POR Diretor digital editorial

Uma assessora de imprensa de uma ministra que se demite por expressar uma opinião contra o Ministério Público português nas redes sociais. Um autarca que manda a polícia belga suspender uma conferênci­a de forças ultraconse­rvadoras temendo pelas palavras que poderiam ser ditas pelos oradores. Um evento sobre a Palestina cancelado numa universida­de francesa com o argumento de falta de garantia de serenidade durante os debates. Um partido castigado pelo Facebook por publicaçõe­s polémicas. Um cantor popular que tem de se explicar após ter sido massacrado por ter atuado num comício. Às portas de umas eleições europeias, onde as sondagens já dão a vitória a partidos de extrema-direita em países como a Áustria, França e Países Baixos, e nas vésperas dos 50 anos da Revolução que devolveu a liberdade aos portuguese­s, a política do cancelamen­to continua a ganhar músculo. E embora não se possam colocar todos os exemplos acima descritos no mesmo patamar, não é a calar opiniões discordant­es ou a marginaliz­ar grupos divergente­s que se combate a desinforma­ção, a xenofobia, a estupidez.

A intervençã­o direta do poder público na conferênci­a nacionalis­ta que tinha o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, como um dos convidados, não é só um ataque à liberdade de expressão. Impulsiona o discurso de ódio e favorece quem o patrocina. De resto, a autocensur­a também se promove com casos idênticos ao da assessora de imprensa da ministra da Justiça do Governo da Aliança Democrátic­a, que se demitiu devido a um post onde exprime a sua opinião, publicado antes de ter assumido a função.

Se já encolhemos os ombros aos linchament­os virtuais, ignorar, impedir, censurar ou atacar o debate público, qualquer que ele seja, é silenciar vozes que precisamos de ouvir, concordand­o ou não com elas.

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