“No mínimo” tem de haver explicação sobre Operação Influencer, diz Pedro Nuno
“É a democracia que está em causa”, avisa líder do PS. Mariana Mortágua critica PGR, Ventura fala de “pressão enorme” sobre a justiça para ilibar Costa
Após meses de cautela sempre que falava da Operação Influencer, o líder do PS endureceu ontem o discurso: saindo em defesa de António Costa, Pedro Nuno Santos afirmou – sem referir diretamente a Procuradoria-Geral da República (PGR) – que o facto de o Tribunal da Relação de Lisboa não ter encontrado indícios de crimes obriga a que, “no mínimo”, sejam dadas “explicações” ao país, já que “é a democracia que está em causa”. Também a líder do BE, Mariana Mortágua, e o PCP pediram mais esclarecimentos e celeridade.
A ex-ministra da Presidência Mariana Vieira da Silva – que é próxima de Costa– saiu em defesa do antigo primeiro-ministro, considerando não haver “nada que justifique” que, ao fim de cinco meses, este não tenha sido ouvido. À Direita, a IL pediu cautela antes de se tirarem conclusões e o Chega alegou que a justiça está a sofrer uma “pressão enorme” para ilibar Costa.
“MERECE SER OUVIDO”
Ontem, o líder do PS afirmou que, “à medida que o tempo vai passando”, o processo a envolver Costa “aparenta” não ter matéria criminal. Recordando que a Operação Influencer culminou na queda do Governo socialista, acrescentou: “Houve consequências, consequências gravosas, não só para o cidadão António Costa mas para o país”.
“É a democracia que está em causa”, disse Pedro Nuno. “O mínimo que se exige são explicações ao povo português. É o mínimo a que temos direito quando tivemos um Governo apoiado por uma maioria absoluta que deixou de o ser”.
Pedro Nuno vincou ainda que o antigo primeiro-ministro “merece ser ouvido” pela justiça e “merece que o processo avance”. Sem esclarecer se se referia à PGR, avisou que “ninguém está acima do escrutínio”.
Mariana Vieira da Silva exigiu celeridade à justiça, de modo a que Costa possa “conhecer aquilo de que é acusado”. A ex-ministra disse não estar a fazer um “ataque à separação de poderes”, mas sim ao facto de o processo não ter avanços “à medida que o tempo passa”.
A líder do BE, Mariana Mortágua, alegou que as explicações da PGR foram “insuficientes”. O PCP, através de uma nota, exigiu clarificação e que o “processo se conclua com celeridade ”.
André Ventura, presidente do Chega, disse haver “uma pressão enorme” sobre a justiça, da parte de “setores ligados ao PS” e não só. O objetivo, considerou, é “ilibar Costa” a tempo de este ir “para o Conselho Europeu” em novembro. Questionado, disse não estar a apontar o dedo ao presidente da República.
Mais cauteloso, o líder da IL, Rui Rocha, pediu que não se tirem “conclusões precipitadas” quanto ao acórdão da Relação. “O tempo da justiça deve ser respeitado sempre”, referiu.
PROCESSO JÁ ESTÁ NO DCIAP
A PGR informou ontem que o inquérito relativo a Costa já foi distribuído no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP). Segundo a CNN, ficou nas mãos da procuradora Rita Madeira. A defesa de Costa congratulou-se por esse passo ter sido dado. Ainda assim, o advogado João Cluny lembrou, à Lusa, que o ex-primeiro-ministro ainda desconhece “os fundamentos que determinaram a remessa do processo para o DCIAP”. Apelou ainda a que tudo decorra com “celeridade”, começando pela “já solicitada audição” de Costa.