Jornal de Notícias

Vereador nega uso de viatura municipal para fins pessoais

Tribunal do Porto julga autarca de Matosinhos por peculato de uso em viagens ao Algarve, Nazaré e Gerês

- Óscar Queirós justica@jn.pt

JULGAMENTO O vereador da Câmara de Matosinhos António Correia Pinto foi ao Algarve, ao Carnaval da Nazaré e ao Gerês, num automóvel da autarquia e acompanhad­o ou precedido por amigos ou pela família. No entanto, garantiu ontem, no Tribunal de S. João Novo, no Porto, que fez as viagens “em trabalho”, nomeadamen­te para ver “como eles lá tratavam a orla costeira”, pelouro de que é responsáve­l desde 2017. Sobre alguns detalhes das viagens, invocou uma amnésia “provocada pela covid”.

Titular dos pelouros do Ambiente e Educação, Correia Pinto foi acusado de peculato de uso entre julho de 2018 e agosto de 2019. Em causa estão viagens, do norte ao sul do país, utilizando viaturas, combustíve­l e portagens, com um custo total para a autarquia de 664,40 euros.

António Correia Pinto mostrou vontade de se “explicar” e começou por negar a utilização do BMW que lhe estava atribuído pela autarquia “para viagens pessoais”.

O arguido assumiu que foi várias vezes no Algarve, em datas em que mulher e filhas lá passavam férias, mas “para ver como lá tratavam a orla marítima”. A presidente do coletivo de juízes sugeriu, com ironia, que o vereador teria juntado “o útil ao agradável”.

Questionad­o sobre os eventuais contactos com vereadores das autarquias que “visitou”, Correia Pinto não indicou nenhum

DEFESA Gerês na agenda

“Estive sempre a trabalhar, a fazer despachos e reuniões digitais”, afirmou o vereador sobre uma viagem ao Gerês para, alegadamen­te, “ver como lá tratavam as matas”.

Prática comum

O arguido afirmou que “é uma prática generaliza­da utilizar estratégia­s de procura de conhecimen­to junto de outras autarquias”. nome, ao que disse, “por pudor”. Não quis chamar essas alegadas testemunha­s, porque se sentia “constrangi­do”, reafirmou.

Alegando falta de memória, por pretensa sequela da covid-19 de que terá padecido, o arguido pediu ao tribunal para falar com recurso a uma cábula que levava no bolso. O coletivo e a procurador­a aceitaram.

UMA MARGINAL À PINHA

Perguntado sobre a viagem que fez à Nazaré com amigos, entre 2 e 5 de março de 2018, o arguido não recorreu à cábula e foi célere a responder que se deslocou ali para “ver as obras que aquela autarquia estava a fazer na marginal”, tendo em vista um projeto semelhante para Matosinhos. Pedro Madureira, um dos juízes do coletivo, perguntou se sabia que no “dia 2 e dia 3, nesse local, decorreu o desfile de Carnaval”, um evento que encheu aquela marginal com milhares de pessoas. Correia Pinto pareceu surpreendi­do, mas, após alguns segundos, reafirmou que foi “em trabalho”.

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Arguido invocou, em tribunal, alguma perda de memória por causa da covid-19

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