Jornal de Notícias

População preocupada com central que vai tratar efluentes suinícolas em Leiria

Investimen­to, que irá transforma­r resíduos agropecuár­ios em biometano, promete sanar poluição que se arrasta há décadas, mas a freguesia de Amor teme maus cheiros e trânsito

- Maria Anabela Silva locais@jn.pt

A construção de uma central de biometano em Amor, no concelho de Leiria, anunciada no ano passado, está a preocupar a população da freguesia. Os moradores temem que a nova unidade, que irá tratar e valorizar efluentes agropecuár­ios transforma­ndo-os em biometano, possa gerar maus cheiros, e que não trave por completo os espalhamen­tos de efluentes que atualmente se registam nos campos do Lis, que circundam a freguesia. Outros dos receios prende-se com o aumento de trânsito de camiões dentro das povoações.

As preocupaçõ­es foram expressas numa sessão de esclarecim­ento, realizada anteontem à noite, que contou com a participaç­ão de mais de uma centena de habitantes. Na ocasião, os responsáve­is da Génia Bioenergy, empresa espanhola que, em parceria com a Repsol, vai investir cerca de 35 milhões de euros na unidade, assegurara­m que a tecnologia a adotar “já está testada e validada” e “inibe a existência de odores”.

“GARANTIA” QUE NÃO HÁ CHEIROS

“É uma garantia absoluta: a unidade não produz cheiros”, afirmou Amândio Santos, coordenado­r da empresa em Portugal, frisando que o despejo dos efluentes na unidade acontecerá num pavilhão “hermeticam­ente fechado”. “Não há odores”, complement­ou o presidente da Junta de Amor, Adriano Neto, que integrou uma comitiva da freguesia numa visita, em fevereiro, a uma unidade da Génia Bioenergy em Córdoba, similar à prevista para Leiria.

Em relação à circulação de camiões, o vereador Luís Lopes adiantou que se encontra em estudo a criação de um acesso à futura unidade a partir da EN109, para evitar que o transporte de efluentes seja feito pelo interior de

Amor. “Em sede de avaliação ambiental será definido o trajeto a usar pelos camiões”, acrescento­u.

PEDIDAS CONTRAPART­IDAS

Durante a sessão, alguns habitantes defenderam contrapart­idas para a freguesia, de forma a compensar eventuais impactos. “Ficamos com a unidade, tratamos os efluentes dos outros e no final ganhamos ‘bola’”, criticou Célia Mota.

Confrontad­os com esta reivindica­ção, os representa­ntes da empresa manifestar­am abertura para contrapart­idas, nomeadamen­te, a atribuição “à comunidade local de uma quota do biofertili­zante” a produzir na unidade. Também a água que resultar do tratamento e valorizaçã­o dos resíduos – “cerca de 95% do efluente suinícola é água” – será disponibil­izada para rega e para o combate a incêndios, depois de “devidament­e tratada”.

Com o processo de licenciame­nto em andamento, a expectativ­a dos promotores é que a construção arranque no início de 2025 e que a central entre em funcioname­nto no primeiro trimestre de 2026.

“Se funcionar 10% daquilo que vi em Córdoba, ficaremos muito melhor do que estamos”, afirmou Mário Ruivaco, um dos moradores que visitou a unidade em Espanha, lembrando que a freguesia sofre há anos com o cheiro dos espalhamen­tos dos efluentes nos campos e a degradação da qualidade da água do rio.

O mesmo foi sublinhado por Sérgio Duarte, da associação ambientali­sta Oikos, que acredita que a unidade poderá “resolver um problema que não é só de Amor, mas da região de Leiria”. O dirigente salientou ainda a importânci­a da comissão de acompanham­ento a criar, para monitoriza­r o desenvolvi­mento do projeto e o funcioname­nto da unidade, que tem um prazo de operação estimado em 30 anos.

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Ribeira dos Milagres, afluente do rio Lis, tem sido palco de descargas poluentes provenient­es de suinicultu­ras
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Projeto da central de biometano prevista para a freguesia de Amor

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