MP investiga eventuais crimes de homicídio negligente
Procuradoria-Geral da República diz que, no âmbito do inquérito ao naufrágio de embarcação em Troia, não há arguidos
O Ministério Público (MP) de Grândola está a investigar eventuais crimes de homicídio negligente no caso do naufrágio em Troia no passado dia 7 que provocou dois mortos e dois desaparecidos. Ao JN, a Procuradoria-Geral da República avança que no inquérito, “no qual se investigam factos eventualmente suscetíveis de integrar a prática de crimes de homicídio negligente, não há arguidos constituídos”.
O magistrado do MP decidiu incorporar no mesmo processo a investigação a cargo da capitania do Porto de Setúbal sobre o sinistro marítimo e para a qual o único sobrevivente, proprietário da embarcação de recreio Lingrinhas, já prestou declarações, dizendo que foi apanhado por uma onda que provocou o naufrágio. Ao MP, Manuel Coelho, 62 anos, ainda não prestou declarações.
A investigação quer perceber se o único sobrevivente tinha noção do perigo da zona para onde se dirigiu e onde decorreu o naufrágio.
A zona onde se deu o naufrágio, ao largo de Troia, é composta por várias ilhas que se formam com a maré vazia, mas onde as correntes e ondulação são maiores devido ao chamado mar de inverno, caracterizado pela ondulação forte das tempestades e depressões no Atlântico que chegam à costa com o vento de oeste e sudoeste.
BARCOS FICARAM EM TERRA
A Setúbal Pesca, associação de pesca artesanal de Setúbal, afirmou ao JN que nenhuma embarcação saiu para o mar durante os dias próximos da tragédia. O presidente, Carlos Ferreira, afirma que todos os pescadores têm em sua posse ferramentas para perceber se o mar está propício à atividade. “Temos a tabela das marés do IPMA, websites como o Windguru que mede os ventos e até a Beachcam dos surfistas, mas basta saber que o vento está de oeste ou sudoeste para perceber que não se pode aventurar naquela zona”.
O MP vai tentar perceber se Manuel Coelho estava ciente destes perigos e da necessidade de recorrer às ditas ferramentas para avaliar o estado do mar. Se houver indícios que escolheu ignorar estes fatores, pode vir a ser acusado de crimes de homicídio negligente.