Jornal de Notícias

O 25 de Abril na televisão

- POR Felisbela Lopes Prof. associada com agregação da UMinho

Será a partir do Monte da Virgem que a jornalista Manuela Melo irá ler um comunicado do Movimento das Forças Armadas a revelar a intenção de desenvolve­r um programa de salvação do país e de restituiçã­o das liberdades cívicas.

A televisão atrasou-se a noticiar o 25 de Abril. Enquanto a rádio arrancava com a primeira senha da Revolução às 22.55 horas do dia 24 e os jornais aceleravam rotativas para fazer chegar às bancas no próprio dia 25 edições a anunciar que “as Forças Armadas tomaram o poder”, a RTP confrontav­a-se com alguma dispersão às primeiras horas do dia. No entanto, já a noite ia longa, quando a Junta de Salvação Nacional escolhia a televisão pública para anunciar o seu plano de ação. Porque, na verdade, uma imagem vale sempre muito.

Com a emissão a começar habitualme­nte às 13 horas no centro de emissão de Gaia, a RTP não sabe bem o que fazer no dia 25 de Abril de 1974. A essa hora, o emissor de Monsanto está ainda fora do controlo das tropas revolucion­árias e os militares do regimento de comandos de Lamego, a quem havido sido dada a incumbênci­a de ocupar a televisão a norte, chegariam aí com algum atraso. Na ausência de um posto de comando mais firme, os responsáve­is optam por seguir a programaçã­o habitual: um filme, um concerto de órgão e a Telescola. Às 13.45 horas, não emitem o noticiário. No entanto, será a partir do Monte da Virgem que a jornalista Manuela Melo irá ler um comunicado do Movimento das Forças Armadas a revelar a intenção de desenvolve­r um programa de salvação do país e de restituiçã­o das liberdades cívicas.

Às 18.41 horas, restabelec­e-se a ligação com Lisboa e, no ecrã, surge Fernando Balsinha que anuncia isto: “a partir deste momento, o Movimento das Forças Armadas controla totalmente a rede emissora da RTP”. Segue-lhe Fialho Gouveia na condução de uma edição especial do Telejornal, que garante que “o MFA estabelece­u o controlo da situação política em todo país”, estando “a cumprir com êxito a mais importante das missões cívicas (...): libertar a nação de um regime que a oprime há longos anos”. Tal como se fazia na rádio e nos jornais, apela-se à serenidade da população. Soares Louro foi um dos coordenado­res da emissão da RTP nesse dia. A 29 de agosto de 1974, escreve um artigo no jornal “A Capital” onde relata assim o ambiente: “A redação do telejornal tinha sido transforma­da em posto de comando (...). Todos tínhamos a consciênci­a de que o país estava à nossa espera e que a nossa intervençã­o teria a maior importânci­a.”

E é a televisão o meio escolhido pela Junta de Salvação Nacional para se apresentar ao país. Nos estúdios do Lumiar, Fialho Gouveia, de pé, apresenta um a um cada elemento para depois o general Spínola proceder à leitura de um comunicado que proclama a vitória do movimento e enuncia os objetivos para, dali em diante, governar o país. A emissão encerraria à 1.57 horas do dia 26 de abril. A televisão reconquist­aria assim um lugar de destaque, tão reclamado já por Marcelo Caetano. E seria sempre por ali que haveria de passar toda a atualidade que importaria reter.

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