Jornal de Notícias

Dor palestinia­na é a imagem do ano para a World Press Photo

Fotografia do repórter da Reuters Mohammed Salem eleita pelo júri. Retratos sociais e políticos de Madagáscar, México e Ucrânia também premiados

- Sérgio Almeida sergio@jn.pt

FOTOJORNAL­ISMO “Uma mulher palestinia­na abraça o corpo da sua sobrinha” é a Fotografia do Ano, de acordo com a World Press Photo. O júri do conhecido prémio de fotojornal­ismo distinguiu a fotografia do repórter palestinia­no da agência Reuters Mohammed Salem que capta o instante em que Inas Abu Maamar, uma mulher de 36 anos, embala o corpo de sua sobrinha Saly, de cinco anos, morta, juntamente com a mãe e a irmã, quando um míssil israelita atingiu a sua casa, em Khan Younis, na Faixa de Gaza ocupada.

Apesar da destruição em massa no território palestinia­no desde o início da operação militar de Israel, como retaliação ao ataque do Hamas a 7 de outubro de 2023, a foto escolhida prima pela contenção. Neste “momento poderoso e triste que resume no sentido mais amplo o que se passa na Faixa de Gaza”, como descreve Mohammed Salem, o júri valorizou a forma como a fotografia aborda “com cuidado e respeito” a dor palestinia­na, “oferecendo ao mesmo tempo um vislumbre metafórico e literal de uma perda inimagináv­el”.

Para Salem, fotógrafo que já tinha sido premiado pela

World Press Photo há uma década, o episódio revestiu-se de um simbolismo adicional, porque a imagem foi captada poucos dias após o parto da sua própria esposa.

AMOR EM TEMPO DE GUERRA

Depois de, no início do mês, terem anunciado os 24 vencedores regionais, os organizado­res divulgaram ontem, em Amesterdão, os quatro prémios principais a concurso. Além da fotografia do ano, a escolha recaiu ainda sobre a História Fotográfic­a do Ano. Da autoria do sul-africano Lee-Ann Olwage, “Valim-babena” aborda o estigma a que são sujeitas em Madagáscar as pessoas com sinais de demência, que apresentam graves sintomas de perda de memória.

“A história aborda uma questão de saúde universal através das lentes da família e do cuidador. A seleção de imagens é composta com carinho e ternura, lembrando aos espectador­es o amor e a proximidad­e necessário­s em tempos de guerra e agressão em todo o Mundo”, justificar­am os membros do júri.

Já a categoria “Projeto de Longo Prazo” galardoou o fotógrafo venezuelan­o Alejandro Cegarra para uma reportagem no “The New York Times” e na “Bloomberg” em torno da mudança nas políticas de imigração do México, que se traduziram em dificuldad­es acrescidas para quem tentou entrar naquele país e puseram em xeque a imagem de nação historicam­ente aberta a migrantes e requerente­s de asilo na sua fronteira sul.

A partir da sua própria experiênci­a de migração, Cegarra dedicou-se durante cinco anos à reportagem “Os dois muros”, construind­o “uma perspetiva sensível centrada no ser humano e na resiliênci­a dos migrantes”.

A guerra na Ucrânia – cujo drama deu origem à Foto do Ano em 2023, sobre o bombardeam­ento aéreo a um hospital em Mariupol – também não foi esquecida.

No segmento “Formato Aberto”, Yulia Kochetova foi distinguid­a com o projeto “A guerra é pessoal”. Combinando imagens fotográfic­as com poesia, clipes de áudio e música em colaboraçã­o com um ilustrador e DJ, a fotógrafa criou um site que alia o fotojornal­ismo ao estilo de documentár­io pessoal de um diário para mostrar o que significa viver com a guerra no dia a dia, como se o absurdo fizesse parte da realidade.

Num Mundo mergulhado em conflitos e numa polarizaçã­o crescente da opinião pública, a escolha anual levada a cabo pela World Press Photo “pode ajudar a criar compreensã­o mútua e a promover a discussão, ao mesmo tempo que cultiva “o apreço pela fotografia de Imprensa de alta qualidade, o que ajuda a abrir espaço para fotógrafos como estes trabalhare­m com mais segurança”, disse Fiona Fields, editora de fotografia do “The Guardian” presidente do júri.

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1 - “Uma mulher palestinia­na abraça o corpo da sua sobrinha”, foto do palestinia­no Mohammed Salem 2
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2 e 3 - Exposição dos vencedores está patente na Nieuwe Kerk, em Amesterdão
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