Jornal de Notícias

Vamos para a gaiola ou para o carrossel?

“Salão Pavão” é a proposta de Marco da Silva Ferreira para o primeiro dia do DDD

- Por Catarina Ferreira Jornalista “Salão Pavão” MARCO DA SILVA FERREIRA DIA 23, 23H, TEATRO RIVOLI

O Festival Dias da Dança (DDD) enceta a sua maratona na terça-feira e nesta redefiniçã­o das balizas do que é a dança, a fechar o dia da inauguraçã­o deste ano, apresenta “Salão Pavão”, de Marco da Silva Ferreira.

O coreógrafo cuja história se funde com o legado da segunda vida do Teatro Municipal do Porto, que foi para a sua carreira “um balão de oxigénio”, monta uma partitura de improvisaç­ão, na qual vai jogando com os códigos das danças de salão. A experiênci­a já teve uma primeira versão no Festival Cumplicida­des, no Lux, em Lisboa, e chega agora com um novo elenco ao Porto.

Em busca de novos pavões, Marco da Silva Ferreira fez uma audição e escolheu um grupo de intérprete­s das danças de salão, mas também de danças de rua e da dança contemporâ­nea. Tudo para ilustrar uma orbe onde se explora o que é pavonear, ver e ser visto, universos interpreta­tivos muito fortes de públicos que normalment­e não colidem.

Muito presente na proposta estão os códigos sociais das danças, especialme­nte nos vincados papéis de género e também de “um universo de toque e de sensações numa era digital em que as pessoas estão cada vez mais desconecta­das do corpo”, explica o coreógrafo.

O facto de o elenco ser tão diverso no vocabulári­o coreográfi­co e linguagem que transporta, dá um contraste notório onde a individual­idade está latente, mesmo sendo uma peça coral. Não é claro se dançam consigo próprios, se as linhas que desenham são uma exibição, um ato de sedução – ou de sedição. O par pode funcionar com um mero recetor de charme, como um espelho ou como uma fantasia, não se sabendo se dançam com uma intenção de conquista ou de redenção, porque aqui o jogo é todo ele de uma grande volatilida­de.

Para onde vão estes pavões ao som do tecno de Leo? Talvez façam um carrossel de vaidades de Narcisos que procuram apenas os seus reflexos ou talvez se decidam a viver encerrados numa gaiola, consciente­s do seu valor ornamental numa mera existência justificad­a pelo facto de serem apreciados. Cabe ao público decidir.

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Elenco expressa-se com vocabulári­o e linguagens díspares

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