Alberto Rodrigues contou que “namoro” para arrendar loja começou há um ano “Depois da loja fechar, não passo mais nesta rua!”
e clientes da Mercearia do Bolhão, no Porto, estão inconformados com o encerramento do espaço
Em choque. Assim ficaram ontem os clientes habituais da Mercearia do Bolhão, no número 305 da Rua Formosa, no Porto, perante a notícia de que o espaço, que abriu portas em 1888, vai fechar no último dia deste mês. Alberto Rodrigues, 79 anos, proprietário de todo o edifício, e mais concretamente da mercearia há 26 anos, contou ao JN que o “namoro” para arrendar a loja começou “há sensivelmente um ano”. E admitiu que “se continuasse a vender como há duas décadas, de maneira nenhuma o espaço seria arrendado”.
Nessa altura, recorda o empresário, “a Baixa vivia cheia de clientes com poder de compra, sobretudo dos bancos e das companhias de seguros, que tinham bom paladar no momento da compra”. “Hoje em dia, o que interessa é comprar barato”, lamentou.
“Sou vizinha da mercearia e venho dar-lhe as condolências pelo fecho da loja”, interrompeu uma jovem, mostrando-se “revoltada” com o encerramento.
Alberto sorri e diz-se “orgulhoso” por ter ajudado a criar a casa “conhecida pelos diferentes cafés torrados e pelo bacalhau”. Mas assegura que “o arrendamento foi feito por um período de 15 anos, ainda que ao fim de cinco o inquilino possa sair”.
O arrendatário será uma loja da marca espanhola Ale-Hop. Mas nem com as prateleiras a começar a ficar vazias – a liquidação total dos produtos inclui descontos de 40% – os clientes habituais dão conta que a mercearia vai fechar. “A sério?! Vai ser uma pena...”, confessou António Cunha, 91 anos, morador na Avenida de Fernão Magalhães, mas cliente habitual “do pão de trigo” da Mercearia do Bolhão desde os tempos em que era motorista da Câmara do Porto. “O brilho da nossa cidade são estas casas. Sem elas, resta os shoppings”, criticou.
Logo atrás, entrou Luísa Vidal, 69 anos, também ela inconformada com o fecho anunciado da loja tradicional. “Estou chocada! Não é admissível que uma coisas destas esteja a acontecer. É uma tristeza muito grande. Devia ser proibido. A nossa cidade está a ficar descaracterizada”, desabafou
O empresário confessou ao JN que a primeira vez que foi abordado por causa do edifício aconteceu “há dez anos e era para ser transformado num hotel”.
Por causa do anúncio do fecho, esta sexta-feira a mercearia foi invadida por muita gente. “Isto é horrível!”, desabafou a funcionária Elisabete Reis, 64 anos, funcionária há duas décadas na mercearia. Diz sentir-se “em choque” desde que, no início do ano, soube que o espaço iria fechar. “É horrível, péssimo! Sinto-me revoltada”, concluindo: “Depois da loja fechar, não passo mais nesta rua!”.