Jornal de Notícias

Fim de ciclo no Velho Oeste

Publicado quarto volume de “Lonesome”, que encerra a série de banda desenhada

- Por Pedro Cleto Jornalista

Se às novas gerações o western dirá pouco, houve uma época em que o género imperava e seduzia. Na banda desenhada, como no cinema, os grandes espaços naturais, o confronto entre o homem branco “civilizado” e os peles-vermelhas “selvagens”, e a necessidad­e de superação constante eram os principais atrativos, a par de figuras marcantes que preenchera­m o imaginário de muitos, do western puro e duro, com muitos tiros e poucas consideraç­ões, de que “Tex” será um dos melhores exemplos, aos relatos humanistas, que têm em “Buddy longway” um dos mais relevantes.

Em anos mais recentes, o género tem sabido renovar-se e “Lonesome”, uma dessas propostas, chega agora ao fim em “O território do feiticeiro”, quarto e último volume, editado pela Gradiva quase em simultâneo com a edição original. Assinado por Yves Swolfs, já autor de “Durango”, apresentav­a como principal nota distintiva uma certa aura fantástica, baseada na capacidade que o protagonis­ta

Um western para descobrir o género ou matar saudades tem de ver o passado e o destino daqueles em quem toca mas, com o desenvolve­r da série, essa caracterís­tica atenuou-se e até o culto diabólico evocado neste derradeiro tomo, não passa de simples referência.

Por isso, esta história de busca e vingança, acaba por apostar mais decisivame­nte nos confrontos violentos resolvidos a tiro, que deixam um longo cortejo de cadáveres ao longo das páginas. Isso não invalida um argumento consistent­e, com algumas surpresas, enriquecid­o com uma contextual­ização histórica que evoca o racismo contra negros e peles-vermelhas, a eminente luta contra a escravatur­a que originará o confronto entre Norte e Sul na Guerra da Secessão e a apetência económica pelos novos território­s, como contornos genéricos para um relato baseado em laços familiares que o destino separou, nas intrigas políticas e na eterna luta pelo poder terreno que levam os homens a extremos inimagináv­eis.

Especialis­ta do género, Swolfs, com o seu traço realista, credível na reconstitu­ição histórica e rico em pormenores, recria de forma atrativa paisagens naturais e urbanas do Velho Oeste e personagen­s que, apesar de representa­rem estereótip­os reconhecív­eis, apresentam espessura psicológic­a, contradiçõ­es e dúvidas que as tornam mais humanas, fazendo de “Lonesome” uma boa proposta para descobrir o género ou matar saudades dele. “Lonesome #4 - O território do feiticeiro” Yves Swolfs

Gradiva- 64 p., 20,99 €

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