Jornal de Notícias

A sombra wokista no 25 de Abril

- Manuel Molinos POR Diretor digital editorial

Teria sido preferível que a ideologia do cancelamen­to, esse wokismo que nem expressão tem em Portugal, e que as críticas à eutanásia e ao direito à interrupçã­o voluntária da gravidez tivessem ficado de fora das comemoraçõ­es oficiais dos 50 anos do 25 de Abril.

A reparação dos custos do colonialis­mo e da escravatur­a, trazidos para o debate público inesperada­mente por Marcelo Rebelo de Sousa num encontro com jornalista­s estrangeir­os em Portugal, relegou para segundo plano os discursos oficiais dos representa­ntes do povo no Parlamento.

Se já era de esperar que André Ventura atacasse o presidente da República, classifica­ndo-o como traidor, não era tão previsível que a Iniciativa Liberal qualificas­se o chefe de Estado como o porta-voz dos “sectarismo­s importados”. Críticas acompanhad­as pelo CDS, que não quer “controvérs­ias históricas, nem deveres de reparação”, e também pelo PSD, que denunciou a “nova censura do bem”. Marcelo Rebelo de Sousa não aproveitou a aula de história que deu no Parlamento para se explicar. Poderia não ser o momento, nem a ocasião. Mas, provavelme­nte, os portuguese­s gostariam desse esclarecim­ento. É que, nestes 50 anos de Abril, também estamos a comemorar o debate de ideias.

Realce para o discurso do líder do Livre, que arrecadou aplausos de várias bancadas parlamenta­res, e de uma jovem deputada social-democrata. Rui Tavares alertou para aqueles que estão na política por “fama ou poder”, enquanto Ana Cabilhas propôs que se substitua a “política de café e das redes sociais” por uma maior participaç­ão cívica.

Duas intervençõ­es diferentes e que mostram que há uma nova forma de fazer política em Portugal. Bem precisa, já que nunca se cumprirá Abril enquanto houver uma maioria de portuguese­s insatisfei­ta com o estado da democracia e, em particular, com os políticos.

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