Marcelo foge à polémica e elogia “povos irmãos”
Presidente evitou falar do tema das reparações históricas às ex-colónias, que lançara há dias
O presidente da República evitou ontem, nos dois discursos que fez, abordar o tema das reparações históricas às ex-colónias, que o próprio tinha lançado esta semana. À tarde, após a sessão solene no Parlamento – na qual ouviu críticas de Chega, IL e CDS (ver páginas 4 e 5) –, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a não tocar no assunto ao usar da palavra durante a receção aos chefes de Estado das antigas colónias, em Lisboa. Apenas disse que aquele “encontro de futuro” fortalece os laços entre os “povos irmãos” que “o 25 de Abril uniu”.
Num curto discurso, o chefe de Estado agradeceu a “honra” da presença dos seus homólogos. Afirmou que o “passado colonial” deu a todos os estados da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) “as memórias e as lições que nos hão de guiar no futuro”.
Já o 25 de Abril, prosseguiu Marcelo, forneceu “a inspiração para irmos mais longe na afirmação da força do nosso futuro”. O presidente salientou que a Revolução abriu caminho à cooperação em várias áreas – da língua à cultura, passando pela economia, pelo combate à pobreza ou pela luta contra as alterações climáticas. “Assim será para sempre”, rematou.
Na cerimónia do Centro Cultural de Belém estiveram os presidentes João Lourenço (Angola), Filipe Nyusi (Moçambique), José Maria Neves (Cabo Verde), Umaro Embaló (Guiné-Bissau), Carlos Vila Nova (São Tomé e Príncipe) e José Ramos-Horta (Timor-Leste). O presidente do Brasil, Lula da Silva, não veio a Portugal, ele que, há um ano, foi alvo de um protesto da parte de deputados do Chega, no Parlamento.
ESCRAVATURA E PILHAGEM
O chefe de Estado angolano homenageou o “heroísmo dos capitães de Abril e dos resistentes portugueses”. João Lourenço lembrou que os povos colonizados lutavam, desde o século XV, “contra a colonização portuguesa e suas consequências, como a escravatura e a pilhagem” das riquezas.
Também o presidente de Moçambique lembrou o contributo dado pelos antigos colonizados para a queda do regime. “A nossa presença nesta efeméride é um tributo merecido aos heróis da luta anticolonialista e aos jovens capitães portugueses”, disse Filipe Nyusi. Na sessão estiveram também o presidente da Assembleia da República, José Aguiar-Branco, e o primeiro-ministro, Luís Montenegro.