Jornal de Notícias

Marcelo foge à polémica e elogia “povos irmãos”

Presidente evitou falar do tema das reparações históricas às ex-colónias, que lançara há dias

- João Vasconcelo­s e Sousa joao.f.sousa@jn.pt

O presidente da República evitou ontem, nos dois discursos que fez, abordar o tema das reparações históricas às ex-colónias, que o próprio tinha lançado esta semana. À tarde, após a sessão solene no Parlamento – na qual ouviu críticas de Chega, IL e CDS (ver páginas 4 e 5) –, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a não tocar no assunto ao usar da palavra durante a receção aos chefes de Estado das antigas colónias, em Lisboa. Apenas disse que aquele “encontro de futuro” fortalece os laços entre os “povos irmãos” que “o 25 de Abril uniu”.

Num curto discurso, o chefe de Estado agradeceu a “honra” da presença dos seus homólogos. Afirmou que o “passado colonial” deu a todos os estados da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) “as memórias e as lições que nos hão de guiar no futuro”.

Já o 25 de Abril, prosseguiu Marcelo, forneceu “a inspiração para irmos mais longe na afirmação da força do nosso futuro”. O presidente salientou que a Revolução abriu caminho à cooperação em várias áreas – da língua à cultura, passando pela economia, pelo combate à pobreza ou pela luta contra as alterações climáticas. “Assim será para sempre”, rematou.

Na cerimónia do Centro Cultural de Belém estiveram os presidente­s João Lourenço (Angola), Filipe Nyusi (Moçambique), José Maria Neves (Cabo Verde), Umaro Embaló (Guiné-Bissau), Carlos Vila Nova (São Tomé e Príncipe) e José Ramos-Horta (Timor-Leste). O presidente do Brasil, Lula da Silva, não veio a Portugal, ele que, há um ano, foi alvo de um protesto da parte de deputados do Chega, no Parlamento.

ESCRAVATUR­A E PILHAGEM

O chefe de Estado angolano homenageou o “heroísmo dos capitães de Abril e dos resistente­s portuguese­s”. João Lourenço lembrou que os povos colonizado­s lutavam, desde o século XV, “contra a colonizaçã­o portuguesa e suas consequênc­ias, como a escravatur­a e a pilhagem” das riquezas.

Também o presidente de Moçambique lembrou o contributo dado pelos antigos colonizado­s para a queda do regime. “A nossa presença nesta efeméride é um tributo merecido aos heróis da luta anticoloni­alista e aos jovens capitães portuguese­s”, disse Filipe Nyusi. Na sessão estiveram também o presidente da Assembleia da República, José Aguiar-Branco, e o primeiro-ministro, Luís Montenegro.

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