Eanes diz que PCP pretendia impor regime totalitário
Descolonização “foi trágica”, considerou o antigo presidente da República numa aula-debate com Marcelo
“Naquela altura o PCP, talvez acossado pela extrema-esquerda, preparava-se efetivamente para estabelecer em Portugal um regime totalitário. Não tenho dúvidas” “Não tive dúvidas nenhumas de que a descolonização iria ser trágica, como foi. Sei que muita gente vai contar que acha que a descolonização foi uma coisa maravilhosa. Não foi”
Ramalho Eanes Ex-presidente da República
25 DE ABRIL O antigo presidente da República António Ramalho Eanes afirmou ontem que durante o Período Revolucionário em Curso (PREC) o PCP se preparava para estabelecer um regime totalitário em Portugal e considerou que a descolonização foi trágica.
Ramalho Eanes falava perante o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, durante uma aula-debate sobre o 25 de Abril com alunos de escolas secundárias e universidades, no antigo picadeiro real, junto ao Palácio de Belém, em Lisboa.
A propósito dos antecedentes do 25 de Novembro de 1975, o general e primeiro presidente eleito em democracia começou por referir que não queria “tecer considerações nenhumas sobre o PCP” e que teve “ótimas relações com Álvaro Cunhal”, um homem que “muito estimava” e “muito considerava”.
“Mas naquela altura o PCP, talvez acossado pela extrema-esquerda, preparava-se efetivamente para estabelecer em Portugal um regime totalitário”, afirmou, acrescentando: “Não tenho dúvidas”.
Citando Melo Antunes, Eanes sustentou que na altura era necessário “reinstitucionalizar o aparelho militar” para que se opusesse “a qualquer tentativa armada de conquista do poder”.
Em concreto sobre os acontecimentos de 25 de Novembro, Eanes disse que houve “uma ofensiva militar”, no seu entender “organizada levianamente pela extrema-esquerda, mas em que o PCP não podia ter deixado de intervir”, perante a qual ele e outros militares foram obrigados a agir.
“Tivemos essa ação, enfim, e repito que podia ter levado a uma guerra civil e que foi indispensável o 25 de Novembro. Repito: foi indispensável, para que as promessas de honra dos militares à população fossem realizadas”, defendeu.
Nesta aula-debate, Eanes relatou que estava em Angola e recebeu a notícia do 25 de Abril sem surpresa. “Mas não tive dúvidas nenhumas de que a descolonização iria ser trágica, como foi. Aliás, eu digo isto com à vontade, com grande à vontade. Eu sei que muita gente vai contar que acha que a descolonização foi uma coisa maravilhosa. Não foi”, considerou.
Na sua opinião, foi trágica porque “deixou aqueles países, Angola e Moçambique, numa situação de guerra que durou anos e que destruiu tudo” e porque “fez regressar ao continente muitos angolanos”.
“REIVINDIQUEM MAIS”
Já Marcelo Rebelo de Sousa considerou que o desfile deste 25 de Abril na Avenida da Liberdade mostrou que a população está atenta em defesa da democracia e apelou aos jovens para que sejam mais ativos politicamente.
Referindo-se ao desfile de quinta-feira na Avenida da Liberdade, em Lisboa, no 50.º aniversário do 25 de Abril, o chefe de Estado afirmou: “É uma forma de manifestação política. É dizer: nós queremos liberdade e democracia intocáveis, e queremos melhor democracia e queremos melhor liberdade, e estamos atentos para que ninguém esvazie a nossa liberdade e a nossa democracia”.
Marcelo incentivou os jovens a agir em conjunto: “Descubram onde é que devem agir, onde é que são mais úteis para agir, e façam-no em conjunto, não individualmente”. “Reivindiquem mais poder, atuem mais, estejam mais presentes”, pediu.