Aquacultura reclama luta contra “grandes obstáculos”
Produtores consideram a falta de conhecimento sobre o setor um bloqueio a novas explorações. Mesmo assim, projetos de investimento atingem recorde
EVOLUÇÃO Apesar de ser ainda residual a quantidade de aquacultura produzida, Portugal destaca-se em algumas espécies e, sobretudo, no know-how cuja evolução nos últimos 40 anos já permite anular alguns mitos que se criaram em torno da atividade. No entanto, é no próprio Estado que a Associação Portuguesa de Aquacultores (APA) encontra as maiores barreiras para a instalação, temas que estarão em debate no seminário que irá organizar no próximo dia 10, em Peniche.
Só 2% das 600 mil toneladas de pescado consumido por ano em Portugal vêm da aquacultura. São 18 mil toneladas, um valor que a APA considera “muito baixo”, face às necessidades do mercado e ao potencial de crescimento. Apesar dos números diminutos, Portugal consegue ser líder europeu, juntamente com Espanha, na produção de pregado e de linguado.
Mas há sinais de algum crescimento da atividade. Isidro Blanquet, secretário-geral da associação, nota que, nos avisos dos fundos comunitários disponibilizados em novembro de 2023,
Emprego
Estima-se que o setor empregue 1800 pessoas, com tarefas diferenciadas e exigência académica. foram submetidos projetos de investimento do setor no valor de 93 milhões de euros, o que, segundo revela, se traduziu num recorde.
Vários desses projetos são relativos a grandes empresas já instaladas com intenções de expansão, que, segundo a APA, apenas aguardam “alguns desbloqueios de licenciamento”.
MITOS DOS ANOS 80
São, de certa forma, entraves que a APA inclui na lista dos “grandes obstáculos” à atividade que, na opinião de Isidro Blanquet, têm a ver com “falta de conhecimento do setor, por parte da Administração e da sociedade em geral”, e considera que “isso tem sido a razão para não crescer como deveria e se esperaria”, a par dos “mitos que vêm dos anos 80 que permanecem enraizados nos consumidores”, como a questão dos antibióticos (“só em caso de emergência”) ou das hormonas (“não se aplica”).
Cita as antigas salinas de Castro Marim e da ria Formosa, no Algarve, como “uma das áreas onde o ICNF não tem permitido a aquacultura”, mas, a seu ver, “trata-se de estruturas criadas pelo homem que importaria recuperar e reconverter, e assim travar a sua degradação”.