Donos de carros burlados com cheques furtados
Grupo de 27 pessoas engendrou esquema para ficar com viaturas à venda na Internet. Empresário terá lucrado mais de dois milhões de euros com o crime
O Tribunal de Matosinhos está a julgar 27 pessoas por burla e falsificação de documento. Todas estão acusadas de participar num esquema engendrado para ludibriar dezenas de proprietários de carros à venda na Internet. Entre os arguidos está um empresário do setor automóvel que, em seis anos, terá lucrado mais de dois milhões de euros com o crime.
Na acusação, o Ministério Público (MP) refere que o núcleo duro do grupo era constituído por 13 elementos, quase todos com ligações familiares entre si, que, a partir de 2014, deci
diram apoderar-se ilegalmente do maior número possível de automóveis. O plano gizado começava com a identificação, em sites como o Stand Virtual, Custo Justo ou OLX, de viaturas à venda por particulares e continuava com uma chamada telefónica para o anunciante.
Com uma estrutura hierarquizada e que impunha a distribuição de tarefas, era o líder quem, com cartões de telefone pré-pagos, fazia a chamada a mostrar interesse no negócio e a marcar o encontro para observar o carro. Porém, já não era ele quem aparecia no local combinado, sempre espaços públicos, como parques de estacionamento ou jardins.
Alegando um compromisso imprevisto, o líder era substituído por mulheres e homens que, depois de uma breve vistoria ao automóvel, aceitavam adquiri-lo pelo preço estipulado.
O pagamento era feito na hora com um cheque que, só no dia seguinte, se descobria que tinha sido furtado ou era de uma conta bancária cancelada. Mas, nesta altura, já o carro estava na posse de uns burlões que não deixavam rasto
Noutros casos, diferentes elementos do bando depositaram um cheque na conta do dono do automóvel ainda com a negociação a decorrer e a vítima, ao consultar a aplicação bancária, via que o saldo contabilístico já refletia a verba correspondente e entregava a viatura. Contudo, também no dia seguinte, o banco percebia que o cheque era furtado. Quando nenhum destes métodos resultava, os burlões pediam para entrar no automóvel, ligavam o motor e fugiam.
VENDIDOS A BAIXOS PREÇOS
Os carros eram, em seguida, vendidos a particulares ou a stands a um preço muito inferior ao seu valor. Um BMW X6, com um preço de 36 mil euros, foi comercializado a sete mil e um Audi A4, de 12 mil euros, despachado por seis mil.
Outras viaturas foram canalizadas para um empresário de Braga, que usava as suas oficinas e armazéns para as viciar ou desmantelar e, posteriormente, vendê-las inteiras ou às peças.
Segundo a acusação, pelas contas de Jorge F. passaram, em seis anos, mais de dois milhões de euros, que o MP assegura serem lucros dos crimes de recetação e falsificação de documento.