Jornal de Notícias

Donos de carros burlados com cheques furtados

Grupo de 27 pessoas engendrou esquema para ficar com viaturas à venda na Internet. Empresário terá lucrado mais de dois milhões de euros com o crime

- Roberto Bessa Moreira roberto.moreira@jn.pt

O Tribunal de Matosinhos está a julgar 27 pessoas por burla e falsificaç­ão de documento. Todas estão acusadas de participar num esquema engendrado para ludibriar dezenas de proprietár­ios de carros à venda na Internet. Entre os arguidos está um empresário do setor automóvel que, em seis anos, terá lucrado mais de dois milhões de euros com o crime.

Na acusação, o Ministério Público (MP) refere que o núcleo duro do grupo era constituíd­o por 13 elementos, quase todos com ligações familiares entre si, que, a partir de 2014, deci

diram apoderar-se ilegalment­e do maior número possível de automóveis. O plano gizado começava com a identifica­ção, em sites como o Stand Virtual, Custo Justo ou OLX, de viaturas à venda por particular­es e continuava com uma chamada telefónica para o anunciante.

Com uma estrutura hierarquiz­ada e que impunha a distribuiç­ão de tarefas, era o líder quem, com cartões de telefone pré-pagos, fazia a chamada a mostrar interesse no negócio e a marcar o encontro para observar o carro. Porém, já não era ele quem aparecia no local combinado, sempre espaços públicos, como parques de estacionam­ento ou jardins.

Alegando um compromiss­o imprevisto, o líder era substituíd­o por mulheres e homens que, depois de uma breve vistoria ao automóvel, aceitavam adquiri-lo pelo preço estipulado.

O pagamento era feito na hora com um cheque que, só no dia seguinte, se descobria que tinha sido furtado ou era de uma conta bancária cancelada. Mas, nesta altura, já o carro estava na posse de uns burlões que não deixavam rasto

Noutros casos, diferentes elementos do bando depositara­m um cheque na conta do dono do automóvel ainda com a negociação a decorrer e a vítima, ao consultar a aplicação bancária, via que o saldo contabilís­tico já refletia a verba correspond­ente e entregava a viatura. Contudo, também no dia seguinte, o banco percebia que o cheque era furtado. Quando nenhum destes métodos resultava, os burlões pediam para entrar no automóvel, ligavam o motor e fugiam.

VENDIDOS A BAIXOS PREÇOS

Os carros eram, em seguida, vendidos a particular­es ou a stands a um preço muito inferior ao seu valor. Um BMW X6, com um preço de 36 mil euros, foi comerciali­zado a sete mil e um Audi A4, de 12 mil euros, despachado por seis mil.

Outras viaturas foram canalizada­s para um empresário de Braga, que usava as suas oficinas e armazéns para as viciar ou desmantela­r e, posteriorm­ente, vendê-las inteiras ou às peças.

Segundo a acusação, pelas contas de Jorge F. passaram, em seis anos, mais de dois milhões de euros, que o MP assegura serem lucros dos crimes de recetação e falsificaç­ão de documento.

 ?? ?? Muitas das viaturas na posse do grupo eram desmantela­das e vendidas às peças
Muitas das viaturas na posse do grupo eram desmantela­das e vendidas às peças

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal