Jornal de Notícias

Os palacetes da praça

Ficavam na Praça Nova das Hortas e neles funcionou a Câmara

- POR Germano Silva

No ano de 1816, no topo norte da então chamada Praça Nova das Hortas (a atual Praça da Liberdade), havia dois palacetes que eram os dois mais importante­s edifícios do sítio. Em ambos viriam a funcionar os serviços da Câmara Municipal do Porto. Já vamos a essa história.

O palacete mais antigo, o mais amplo, era o que ficava a nascente, para as bandas da atual Rua de Sampaio Bruno, que naquele tempo tinha a designação de Travessa de Sá da Bandeira. Fora mandado construir, nos começos do século XVIII, por José Monteiro Moreira, casado com D. Josefa Joana Salazar, moradores na Rua de S. Miguel.

Há dúvidas sobre se o palacete em causa chegou a ser habitado pela família que o construiu. Porque, em 1786, funcionava nele o “Depósito Público” e posteriorm­ente o Tribunal da Relação, “por estar em ruína a Casa da Justiça”, mandada construir no tempo dos Filipes.

O que sabemos é que, em 1816, o imóvel estava na posse de Inácio Leite d’Almada Pinheiro Moreira, descendent­e de José Monteiro Moreira, quando a Câmara o quis comprar. O “namoro” ao edifício por parte da autarquia vinha de trás.

Foi em 1793 que, pela primeira vez, a Câmara do Porto mostrou desejos de comprar o imóvel. Nesse mesmo ano, escreveu ao príncipe regente, futuro rei D. João VI, a pedir-lhe autorizaçã­o “para adquirir o maior edifício da Praça Nova das Hortas”, a fim de nele instalar os serviços municipais.

O príncipe não respondeu. Pelo menos, a resposta não chegou ao Porto. Entretanto, a Câmara soube, ainda em 1793, que a Administra­ção do Tabaco estava interessad­a no edifício, “para nele instalar as fornalhas e a fábrica”. Perante tal situação, a edilidade portuense reuniu-se “com os representa­ntes das forças vivas da cidade” e estas foram unânimes em concluir que se devia escrever novamente ao príncipe, pedindo-lhe que autorizass­e a compra da casa.

Argumentav­am que, para além de muitos outros inconvenie­ntes, havia o do o município estar a pagar um alto aluguer “pela ocupação das antigas aulas que haviam pertencido aos padres jesuítas” – referência à passagem da Câmara pelo antigo Colégio de S. Lourenço (Grilos), que antes fora o convento dos padres da Companhia de Jesus, jesuítas.

Em outubro de 1815, chegou carta do príncipe regente. O futuro D. João VI concede, finalmente, o que lhe é pedido. Iria, enfim, ser resolvido um dos mais inquietant­es problemas do município – ter uma sede condigna. No dia 24 de fevereiro de 1816, o procurador da edilidade escreveu a Inácio Leite, dono do prédio, que vivia em Guimarães, dando-lhe conta do interesse do muni

Em tempos muito remotos, o terreno onde hoje se abre a Praça da Liberdade tinha a designação de Casal de Paio de Novais e, posteriorm­ente, o de Campo das Hortas, por ficarem por ali as viçosas hortas dos senhores bispos. O primeiro projeto para se construir uma praça pública no sítio onde estavam as hortas apareceu em 1709, por iniciativa do bispo de então, D. Tomás de Almeida, que era o senhor dos terrenos, conjuntame­nte com o cabido, ou seja os cónegos. Entretanto, cípio em comprar o palacete, enviando cópia da carta régia da qual constava a indispensá­vel autorizaçã­o. A resposta não demorou a chegar. Inácio Leite informava que “mal passasse o mal da gota” de que naquela altura padecia, viria de imediato ao Porto “para conversar com a Câmara”.

No entanto, o dono do palacete da praça cobiçado pela Câmara não estava a dizer a verdade, pois já havia feito escritura de venda do dito prédio à Companhia da Agricultur­a das Vinhas do Alto Douro. A indignação da vereação portuense foi enorme. Como era possível que tal tivesse acontecido? Mas não desistiu dos seus intentos. Oficiou a Companhia, dando conta aos seus dirigentes das diligência­s feitas anteriorme­nte para a compra do palacete e, no dia 23 de março de 1816, a Companhia informou que estava disponível para vender à Câmara “a casa nobre da Praça Nova das Hortas, com a sua capela, quintal, água e mais pertences, pela quantia de 26 contos de réis, a mesma quantia pela qual havia comprado a dita casa a Inácio Leite”. Ao fim de morosas negociaçõe­s, a Câmara ia enfim ter um sítio, em pleno centro da cidade, onde instalar os serviços. O que só aconteceu, efetivamen­te, no dia 21 de agosto de 1819.

E o outro palacete?, pergunta o leitor com toda a legitimida­de. O outro edifício, a nascente da praça, contíguo ao da família Inácio Leite, pertencia a D. Maria da Natividade Guedes de Portugal e Meneses, era mais moderno do que o primeiro, só foi comprado pela Câmara em 15 de março de 1864 e serviu para a Câmara nele instalar parte dos seus serviços administra­tivos. Ficava esse imóvel, para poente, contíguo à casa de um conhecido comerciant­e do Porto desse tempo, Custódio José de Passos, que no rés do chão do prédio onde vivia explorava uma conhecida drogaria. Era o pai do poeta do romantismo Soares de Passos, que nasceu na casa onde viviam os pais. A Câmara do Porto funcionou nos palacetes da Praça Nova das Hortas até 1916, quando o mesmo sítio já tinha outra designação – Praça de Liberdade.

Os palacetes na antiga Praça Nova das Hortas. E que bonita que ela era

A história da Praça Nova das Hortas

D. Tomás de Almeida é nomeado cardeal e enviado para Lisboa. A execução do projeto da praça fica suspenso. Viria a ser retomado em 1721 e aparece finalmente a Praça Nova das Hortas, depois somente Praça Nova; Praça da Constituiç­ão em 1820; três anos depois, retoma o nome antigo; de D. Pedro, a seguir; em 1910 (13 de outubro), Praça da República; alguns dias depois (27 de outubro), definitiva­mente Praça da Liberdade.

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