“Idosos só saem de casa se tiverem condições”
Ana Louro, geógrafa e investigadora do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) da Universidade de Lisboa, diz que as casas de banho públicas têm fechado por falta de recursos humanos. Alerta ainda para os idosos que “não saem de casa” por carência destes equipamentos.
Porque é que as casas de banho públicas foram perdendo importância nas cidades e desaparecendo do espaço público?
Ainda encontrámos em alguns jardins ou praças as casas de banho públicas mais tradicionais. Por vezes, fecham na totalidade ou são substituídas por outras móveis. As infraestruturas mais qualificadas têm fechado por questões de recursos, especialmente humanos, que mantenham a casa de banho aberta e limpa. Tem a ver com a importância dada ao assunto e orçamento disponível. Muitas vezes os equipamentos móveis não têm resultados tão positivos porque ficam a funcionar de forma muito autónoma e a limpeza é menos regular.
Com o crescente número de turistas, estas infraestruturas não se tornam essenciais nas cidades?
Sim, claro. Estamos a receber cada vez mais turistas e cada vez de forma mais regular. Já não temos, especialmente em Lisboa, uma época sazonal muito forte, há ocupação durante o ano inteiro. Uma pequena parte das taxas turísticas que são aplicadas em algumas cidades poderiam ser alocadas à questão do saneamento e da limpeza, pois vem diretamente de potenciais utilizadores. Depois vai beneficiar turistas e quem vive a cidade.
A carência de sanitários pode inibir a utilização do espaço público?
A questão dos sanitários é fundamental, especialmente para algumas comunidades, como os idosos. São os que têm mais tempo livre e procuram lazer e cultura, mas só o fazem se tiverem condições. Ter uma casa de banho perto de um jardim é chave para essa pessoa decidir sair ou não. O mesmo acontece com famílias com crianças. Dependendo do nosso ciclo de vida, precisamos de diferentes infraestruturas para aceder aos mesmos espaços.
Considera que devem ser pagas ou gratuitas?
A questão do pagamento pode ser condicionante para alguns indivíduos, mas penso que se, por outro lado, o gestor do equipamento mostrar à pessoa a importância que aquela pequena contribuição terá ao permitir que o equipamento se mantenha aberto, limpo e com alguém a tomar conta dele, é uma mais-valia.