“A falta de casas de banho é terrível, a pior parte deste trabalho”
Taxistas são dos profissionais mais afetados pela escassez de sanitários gratuitos. Maior afluência de turistas leva juntas e cafés a cobrar mais
No Largo do Carmo, em Lisboa, dezenas de alunas de uma escola de Torres Vedras, em visita de estudo, fazem fila para os sanitários públicos. A professora, Maria João Fonseca, considera irrisório os 50 cêntimos cobrados, desde há um mês, para aceder aos equipamentos geridos pela Junta de Santa Maria Maior. “Se o pagamento servir para haver casas de banho, e limpas, faz sentido. Em Londres e Paris paga-se muito mais”, diz Maria José. Já para algumas alunas “não faz sentido cobrar”. “É uma necessidade básica”, argumentam.
Por causa da elevada procura por esta infraestrutura, André Pereira, gerente da Leitaria Académica, subiu, este ano, de 50 cêntimos para um euro a cobrança a não clientes para o WC. “No verão é uma loucura, temos grandes filas. E este valor não dá para cobrir as despesas todas que temos com água e limpeza”, lamenta.
Para quem trabalha várias horas na rua, o problema agrava-se. “É terrível, a pior parte deste trabalho, principalmente para mulheres. Em Campolide há casas de banho gratuitas, mas não têm papel higiénico, ando sempre com lenços nos bolsos”, conta Heidi Regina, taxista.
Pedro Fonseca, taxista há 25 anos, chegou a ter um cartão para aceder aos sanitários gratuitamente, “mas a Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL) deixou de os dar”, critica. O presidente da ANTRAL diz que “a Câmara de Lisboa não tem distribuído os cartões”. “Temos pedido insistentemente e não nos têm enviado. É um problema grave”, diz.
Afonso Karin, num quiosque há 42 anos, afirma que os WC “fazem muita falta”. “Os sem-abrigo aqui fazem as necessidades na rua. Com o aumento do valor da taxa turística, pode haver dinheiro para sanitários”, sugere. Um problema partilhado por motoristas de tuk-tuks, polícias e floristas.
“15 MINUTOS”
A Câmara de Lisboa prevê “instalar 75 casas de banho, preferencialmente perto de locais de utilização de transportes públicos, praças de táxi e jardins”, este ano, no âmbito de uma concessão com a JCDecaux, que acrescenta ao JN que “o tempo por cada utilização será de 15 minutos, ao fim dos quais soa um alarme e a porta destrava-se num procedimento de segurança”.
A autarquia acrescenta que está a “trabalhar com as entidades gestoras destes equipamentos para o seu pleno funcionamento” e que concluiu “o levantamento da rede de sanitários públicos da cidade, com o objetivo de avaliar soluções para melhoramento e eventual reparação de equipamentos”.