Jornal de Notícias

SAI AOS DOMINGUES

Acabaram as reguadas, voltaram as réguas

- POR Cátia Domingues Humorista

Foi notícia esta semana a comunicaçã­o que o Liceu Pedro Nunes em Lisboa fez aos encarregad­os de educação a propósito dos próximos exames nacionais. Foi enviado um alerta que informou que os alunos poderão não ter a oportunida­de de realizar as provas se estiverem vestidos de calções curtos, chinelos de praia ou roupa decotada. De repente, os exames nacionais têm um dress code mais rigoroso que uma homilia dominical.

A secundária em causa diz que é uma regra que está na lei e é verdade. De acordo com a lei, o aluno deve apresentar-se com vestuário adequado, mas a questão é o que é que “adequado” quer dizer. É que, este tema passou sempre por uma autorregul­ação do aluno e eu digo que até do próprio professor. E eu tive um professor que tinha uma relação demasiado dependente com um chapéu que trouxe de umas férias da Austrália. Foi um ano em que tive o Crocodilo Dundee a ensinar-me tudo sobre bacias hidrográfi­cas. Mas outra lei que consta na mesma página do “Diário da República” é esta: Não difundir, na escola ou fora dela, nomeadamen­te, via Internet ou através de outros meios de comunicaçã­o, sons ou imagens captados nos momentos letivos e não letivos, sem autorizaçã­o do diretor da escola. Sabem o que é que isto quer dizer. Quer dizer que muitos diretores de escola devem estar, neste momento, em burnout e com o pulso em ferida pela quantidade de autorizaçõ­es que dão a dancinhas do TikTok gravadas em recreios em escolas por todo o país. E não vejo ninguém a falar disto.

Mas, se calhar, isto faz-me muita confusão porque eu sou da geração em que as raparigas usavam tops a mostrar o umbigo e os rapazes calças ao fundo do rabo mas que a nossa única preocupaçã­o para os exames nacionais era saber responder corretamen­te à pergunta “o que é que o poeta queria dizer na terceira estrofe do canto VI?”. Hoje em dia as modas são semelhante­s mas conversas são mais “Estudaste para o exame de métodos quantitati­vos?” Sim. Mas estou de Havaianas sou capaz de não passar. No liceu Pedro Nunes, estar preparado para o exame não só pode implicar ter explicaçõe­s como preparar as explicaçõe­s que vai ter de dar quando entrar na sala com um vestido da moda. Se precisarem, mandem mensagem que eu estou a vender na Vinted algumas roupas antigas da minha avó em que até a roupa interior era chamada de “gola alta”.

Se isto do tamanho da roupa virasse regra, um aluno mal entra no liceu tem um ataque de pânico por achar que só tem professore­s de Matemática por se apresentar­em com uma régua na mão. E isto era coisa para estragar as próximas temporadas da série “Morangos com açúcar”, em que as personagen­s nomeadamen­te aquele jovem surfista que faz um part-time no Bar do Fred eram impedidos de entrar nas aulas do professor Sapinho no Colégio da Barra. Acabava ao segundo episódio.

Parece que entretanto a escola voltou atrás e disse que nenhum aluno irá ser impedido de realizar a prova embora tenha deixado o alerta que “se devem vestir de forma a não perturbar os colegas”. Por isso, deixo o meu conselho para estes alunos, não usem roupa curta por duas razões: 1.o assim o calão da turma não se pode queixar que teve 7 no exame porque a Sandra tinha a alça do sutiã à mostra e 2.o impossível fazer cábulas assim. O truque, sempre ouvi dizer, é usar camisolas de manga comprida. Ouvi dizer, porque eu nunca fiz.

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por uma autorregul­ação do aluno e eu digo que até do próprio professor”
“De acordo com a lei, o aluno deve apresentar-se com vestuário adequado, mas a questão é o que é que ‘adequado’ quer dizer. É que, este tema passou sempre por uma autorregul­ação do aluno e eu digo que até do próprio professor”
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