Jornal de Notícias

Comunidade de Ílhavo manobra máquina pelo bem

Projeto comunitári­o apresenta hoje performanc­e que pretende “cercar o ódio e forçá-lo a render-se”

- Salomé Filipe cultura@jn.pt

Chegaram à Gafanha da Nazaré, em Ílhavo, com uma “folha em branco”, prontos a ouvir a comunidade e, a partir daí, a criar de raiz uma performanc­e artística que enchesse o palco, sob o mote “Esta máquina cerca o ódio e força-o a render-se”. É assim que a ondamarela, uma estrutura artística de Guimarães, está habituada a trabalhar. O projeto já havia passado por Sever do Vouga e Ovar. Mas o resultado, esse, é sempre novo. Hoje, às 17 horas, com 25 membros da comunidade, apresentam uma proposta que envolve música, canções, desenho, vídeo, poesia e tudo aquilo que, quem sabe, possa surgir à última hora.

Há baldes de tinta vazios, virados ao contrário, a fazer as vezes de bombo e a marcarem o ritmo. As vozes vociferam, com garra, “prontos a avançar”, “atitude, já”, “passemos à ação”, num grito de guerra que antecede o que está por vir. Soam cavaquinho­s. Alice, de 82 anos, desfila os seus passos de chachachá. O espetáculo está a ser criado com Ricardo Baptista a coordenar o movimento e a ação. “O nosso trabalho é muito intenso e rápido. Mas, na realidade, há sempre coisas em aberto até ao fim”, explica um dos responsáve­is pela direção artística do projeto, a par de Ana Bragança e Sara Fernandes.

A ROLDANA DA LIBERDADE

Carolina Marques, de nove anos, é uma das participan­tes, levada para aquelas lides pelas mãos da avó, que também integra a performanc­e. “Está a ser muito divertido. Para mim, entendo que estão a falar um pouco do 25 de Abril e do ódio, que acho que é quando não queremos saber do que uma pessoa quer dizer”, diz de sua justiça.

Com o cinquenten­ário da Revolução, foi inevitável os valores de Abril virem à baila. “Foi um assunto trazido pelas pessoas, claro. Uma das roldanas desta ‘máquina’ até é, precisamen­te, a liberdade e de que forma se relaciona com a democracia”, explica Ana Bragança. Depois, há o preconceit­o, a diferença, a empatia e o amor.

O trabalho para “cercar o ódio” foi feito em várias frentes, antes de começar a ser estruturad­a a performanc­e. Houve oficinas em escolas, debates e sessões com grupos de imigrantes, por exemplo. As roldanas da máquina mostram-se, hoje, em palco. E o membro mais velho do grupo, João Cavaz, com 86 anos, só tem uma certeza: “Esta máquina é muito fixe, quanto a mim”.

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Projeto reúne em palco 25 elementos de várias idades

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