Mãe perfeita perdida no Mundo
Minissérie franco-alemã revela os dramas de uma família mais frágil do que aparenta
Anya, uma jovem no início da vida, deixou Berlim, onde vivia com os pais e o irmão – a família perfeita – para ir para Paris. Por razão de peso que descobriremos, fez o percurso inverso ao da mãe, décadas antes, quando quis libertar-se do que sentia como jugo da própria mãe.
Meses depois, a mãe recebe um telefonema: Anya está acusada de homicídio. Larga tudo e parte para ajudar a filha e tentar compreender o que aconteceu. Vai descobrir que Anya acompanhou Damien que conheceu numa discoteca, foi drogada com GBH, abusada sexualmente e acordou ao lado do cadáver do seu carrasco, com perda de memória das últimas horas.
Hélène recorre a Vincent, agora advogado, alguém que conheceu – e abandonou – na sua juventude, descobrindo que o que existiu entre eles ainda está latente.
Com o avançar da história, dividida pelos quatro episódios desta minissérie de produção franco-alemã, vai sendo revelada uma teia de mentiras, das aparências da ‘família perfeita’ ao que aconteceu no fatídico apartamento. E, afinal, a história
policial de base revela-se também um retrato sociológico de famílias em desagregação; de jovens sem perspetivas, presos aos pais, porque não têm mais nada, mas que só querem encontrar o próprio caminho para não repetirem os erros dos progenitores.
Por outro lado, a investigação, desenvolvida em paralelo pela Polícia francesa, pela mãe, por Vincent e por um jornalista pago pela mãe da vítima, vai revelar como os factos aparentemente sólidos podem ter diversas interpretações e leituras em função das perspetivas e do lugar que cada um ocupa, sejam eles pais, filhos, irmãos, autoridades ou participantes colaterais, num contexto social por onde perpassam temáticas como o abuso sexual, violência doméstica, imigração clandestina ou ativismo dos jovens.
No final, sobra uma enorme interrogação, que sobrepassa o simples destino dos membros daquela família, afinal imperfeita como todas são, e nos interroga sobre o Mundo que estamos a construir e a deixar em herança.
“Uma mãe perfeita”
THOMAS BOULÉE/CAROL N. Netflix
2021