Esta Europa somos nós
Dois mil e dezanove não foi assim há tanto tempo, mas poucos se lembrarão do rasto de cidadania que os portugueses deixaram na história das eleições europeias: 69% de abstenção. Os tempos eram outros, com os ventos do extremismo menos agrestes, mas, cinco anos volvidos, o entusiasmo nativo com este sufrágio permanece o mesmo, por mais que a nossa condição de beneficiários clássicos dos fundos comunitários nos deixe sempre embevecidos. De resto, tem sido assim ao longo dos tempos: somos bons a cobrar a Bruxelas (não tão bons a executar as benesses), mas pouco competentes a participar no processo. Todavia, o alheamento face ao universo burocrático do Parlamento Europeu e demais instituições não é um exclusivo lusitano e está, em grande medida, relacionado com a dimensão hermética dessa realidade tantas vezes distante.
A campanha eleitoral que agora começa tem, desde logo, esse desafio: o de focar a mensagem nos temas da Europa com a preocupação de os ligar à nossa vida quotidiana. Assim é na imigração, na defesa, na transição energética, no ambiente, na habitação e no emprego. Os maiores partidos terão uma dificuldade adicional: a de se fazerem distinguir. O voto útil tenderá a dispersar-se e, com ele, ganharão ascendente as forças mais pequenas, em particular as ruidosas. Importa, por isso, relevar a importância para todos destas eleições, num momento particularmente desafiante para a Europa, que tenta suster os efeitos do embate EUA-Rússia-China sem, com isso, perder a identidade como continente do progresso, do Estado social, da paz, da livre concorrência e da democracia. Esta Europa não são eles em Bruxelas. Somos nós.