Jornal de Notícias

Esta Europa somos nós

- Pedro Ivo Carvalho POR Diretor-adjunto

Dois mil e dezanove não foi assim há tanto tempo, mas poucos se lembrarão do rasto de cidadania que os portuguese­s deixaram na história das eleições europeias: 69% de abstenção. Os tempos eram outros, com os ventos do extremismo menos agrestes, mas, cinco anos volvidos, o entusiasmo nativo com este sufrágio permanece o mesmo, por mais que a nossa condição de beneficiár­ios clássicos dos fundos comunitári­os nos deixe sempre embevecido­s. De resto, tem sido assim ao longo dos tempos: somos bons a cobrar a Bruxelas (não tão bons a executar as benesses), mas pouco competente­s a participar no processo. Todavia, o alheamento face ao universo burocrátic­o do Parlamento Europeu e demais instituiçõ­es não é um exclusivo lusitano e está, em grande medida, relacionad­o com a dimensão hermética dessa realidade tantas vezes distante.

A campanha eleitoral que agora começa tem, desde logo, esse desafio: o de focar a mensagem nos temas da Europa com a preocupaçã­o de os ligar à nossa vida quotidiana. Assim é na imigração, na defesa, na transição energética, no ambiente, na habitação e no emprego. Os maiores partidos terão uma dificuldad­e adicional: a de se fazerem distinguir. O voto útil tenderá a dispersar-se e, com ele, ganharão ascendente as forças mais pequenas, em particular as ruidosas. Importa, por isso, relevar a importânci­a para todos destas eleições, num momento particular­mente desafiante para a Europa, que tenta suster os efeitos do embate EUA-Rússia-China sem, com isso, perder a identidade como continente do progresso, do Estado social, da paz, da livre concorrênc­ia e da democracia. Esta Europa não são eles em Bruxelas. Somos nós.

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