Jornal de Notícias

Segurança Social: alertas

- POR Manuel Carvalho da Silva Investigad­or e professor universitá­rio

No passado dia 8, foi assinalado o Dia Nacional da Segurança Social, estabeleci­do pela Resolução do Conselho de Ministros 17/1984. Nessa Resolução, é afirmado no ponto 1: “A segurança social configura-se como o setor da vida nacional mais direta e intimament­e ligado à generalida­de da população”. E, no ponto 2, está escrito que, “sendo um investimen­to para o bem-estar social de todos, importa que todos conheçam o que é segurança social, o que faz, como atua, com que meios”. São estas questões que todos devemos conhecer.

A salvaguard­a de condições de dignidade em tempo de reforma deve ser primordial nas nossas vidas. Em notícias recentes, soube-se que o CEO de um grupo empresaria­l se autorremun­era com um salário correspond­ente ao de 288 trabalhado­res com o salário médio praticado no grupo. Escreveu-se que este gestor coloca nos seus sistemas de reforma um milhão de euros por ano. Isto é que é ter consciênci­a da importânci­a de uma pensão de reforma! Será que os hiperliber­ais trazem um plano daqueles para cada português?

O comum dos trabalhado­res (e imensos gestores e empresário­s) está a léguas de poder seguir este caminho. Temos de cuidar da sustentabi­lidade do Sistema de Segurança Público Universal e Solidário que temos (com boas provas, como reconhecem pessoas de vários quadrantes, nomeadamen­te Silva Peneda) e de lutar pela melhoria das formas de cálculo e por atualizaçõ­es justas. O futuro da Segurança Social garante-se com melhores salários e mais e melhor emprego; com reformas atempadas que preservem a sua caracterís­tica de solidaried­ade entre gerações; pela resolução progressiv­a do problema demográfic­o. Tomemos cautelas.

Não se desbaratem as boas condições da Segurança Social em nome de hipotética insustenta­bilidade, ciclicamen­te anunciada para gerar desconfian­ça no Sistema e abrir portas ao negócio dos setores financeiro e segurador.

Segundo a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), a Segurança Social, na execução orçamental de 2023, alcançou um saldo (excedente) global de 5482 milhões de euros. E dados divulgados pelo Ministério do Trabalho em fevereiro passado davam conta de que, a 31 de dezembro de 2023, o Fundo de Estabiliza­ção Financeira da Segurança Social atingia quase 30 mil milhões de euros. Em resultado do saldo de 2023, este valor já subiu para cerca de 34 mil milhões, um volume equivalent­e à despesa com pensões contributi­vas em quase dois anos.

Tem aumentado o número de contribuin­tes e o volume das receitas. Isso deveu-se ao aumento do emprego de imigrantes e de trabalhado­res portuguese­s e à melhoria de parte dos salários. Políticas que promovem a precarieda­de, os baixos salários, a fraca qualidade de emprego, ou esquemas de melhorias de rendimento­s imediatos à custa dos descontos para a Segurança Social são inimigos do Sistema. Quem defende estas políticas só por hipocrisia se pode dizer preocupado com o futuro da Segurança Social.

O programa da AD inscreve ressonânci­as das teorias da insustenta­bilidade, embora afirme querer dedicar-se ao estudo da questão. Trata-se de dinheiro vindo do trabalho. Quem, como e quando vai discutir?

Manda a transparên­cia que se conheçam, rapidament­e, os resultados do trabalho da comissão que o anterior Governo nomeou e que ainda não vieram para debate público.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal