Já estamos em pré-campanha
Todos percebemos, na noite de 10 de março, que iríamos entrar em clima político instável, com elevado risco de rapidamente voltarmos às urnas. Não admira, por isso, que se sinta no ar um cheiro a pré-campanha e um taticismo maior do que o habitual nos passos dados quer pelo Governo, quer pela Oposição. Há três sinais evidentes do quanto este início de ciclo vem mesclado de corrida rumo ao próximo.
Desde logo, a permanente disputa sobre a paternidade de medidas. São vários os exemplos e um dos mais recentes a atualização do complemento solidário para idosos. Um segundo sinal é a pressa em mostrar serviço. Do lado do Governo, foram apontados prazos para apresentar um plano de emergência na Saúde, traçado o calendário para apaziguar a ira de várias classes profissionais, apresentadas medidas na Habitação. Do lado da Oposição, aprova-se o fim das portagens nas ex-scut do Interior e a alteração substancial no IRS. Quanto à terceira evidência de que o combate político tenderá a ser agressivo durante a legislatura, passa pela prioridade que está a ser dada pelos principais partidos à criação de perceções e argumentações junto do eleitorado. A ineficácia e falta de ambição do Governo são os motivos invocados a todo o momento para sustentar as iniciativas parlamentares da Oposição. Já a equipa de Luís Montenegro aposta em colar o PS ao Chega, na narrativa das “coligações negativas”, e em expor as constantes “surpresas” encontradas na gestão.
Resta saber se, a médio prazo, essa dramatização não poderá virar-se contra o próprio Governo, se a realidade desconstruir algum do alarme criado. Veja-se o último exemplo: Portugal pode ser suspenso do Espaço Schengen em julho, se não concluir a tempo a instalação do novo sistema de controlo de fronteiras, declara o ministro da Presidência. Analisando os prazos e as garantias dadas por elementos do Sistema de Segurança Interna, afinal rapidamente se conclui que esse risco é mínimo. Tudo somado, o país ganharia com mais ação e menos energia dedicada à guerrilha.