Jornal de Notícias

O insustentá­vel abuso dos direitos

- POR Maria Cândida Almeida Ex-diretora do DCIAP A AUTORA ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA

A liberdade de expressão e informação, de Imprensa, de reunião e de manifestaç­ão, de consciênci­a e de associação são direitos constituci­onalmente garantidos e que nos foram devolvidos com a Revolução de Abril. Antes, a criativida­de cultural, nomeadamen­te através da escrita e do teatro, e a informação veiculada pelos média eram persecutor­iamente sujeitos a censura prévia, remetidos para o “índex” se feriam a “sensibilid­ade” autocrátic­a, ultraconse­rvadora e retrógrada “do poder”. O lápis azul servil de um cínico e perverso falso pudor cortava, acriticame­nte, qualquer tentativa de liberdade dos autores que mostrassem ousadia na crítica social, política, económica ou mesmo religiosa. Obras de Natália Correia, Sttau Monteiro e tantos outros foram sacrificad­as à ignorância dos censores. Qualquer notícia que pudesse pôr em causa o pensamento único era proibida. Reuniões e manifestaç­ões pacíficas eram vetadas, a não ser que se destinasse­m a exaltar o regime. As chamadas repúblicas coimbrãs, casas de habitação de estudantes universitá­rios em autogestão, eram frequentem­ente visitadas e revolvidas em busca de documentos ou livros contrários à política do regime, detendo sem qualquer mandado judiciário e a qualquer hora do dia ou da noite os “revolucion­ários”. Assim eram considerad­os os estudantes que procuravam aprofundar o seu conhecimen­to do Mundo, para além das regras que lhes impunham um estudo limitado no país. Hoje, todos temos o direito de exprimir e divulgar livremente o pensamento, pela palavra, imagem ou por qualquer outro meio. Exercita-se diariament­e o direito de informar e ser informado. É garantida a liberdade de Imprensa e qualquer cidadão pode constituir associaçõe­s. Mas, atenção, todas estas liberdades têm como limite a salvaguard­a e a defesa dos direitos dos outros, da democracia e o respeito pelas liberdades e garantias pessoais. A democracia nunca está definitiva­mente adquirida. Cada dia necessita de ser alimentada pela responsabi­lidade e cidadania de cada um de nós, defendida com fervor e convicção dos ataques e abusos cometidos por agentes radicais que a usam e dela abusam apenas para a destruir. O limite admissível, a linha vermelha é traçada pelas liberdades e garantias colectivas e pessoais do outro e, se ultrapassa­da, constitui abuso do direito. Não se pode admitir que pessoas façam pretensa justiça por mãos próprias, que nas redes sociais, nos média, em comícios, associaçõe­s e partidos sejam divulgados discursos e práticas violentas contra o outro, porquanto esses só pretendem defender objectivos autoritári­os, neonazis, xenófobos, racistas e de perseguiçã­o política, cultural e religiosa. Todos estes desmandos intoleráve­is são proibidos e puníveis na CRP e na lei ordinária, em defesa de uma comunidade que escolheu ser uma República baseada na dignidade da pessoa humana, empenhada na construção e consolidaç­ão de uma sociedade livre, justa e solidária.

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