Reguladora aperta o cerco a cuidados de estética
Há estabelecimentos a funcionar sem médicos e a injetar produtos na pele dos pacientes
LEI A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tem, nos últimos anos, monitorizado de perto os estabelecimentos prestadores de cuidados de estética em várias ações, seja elas de fiscalização, prestação de informações ou sessões de esclarecimento. Em 2022, lançou um processo de monitorização devido “a diversas situações identificadas” através de denúncias. O principal problema é a prática de procedimentos estéticos por profissionais não habilitados, ou seja, que não são médicos.
No processo de monitorização, implementado há dois anos, foram analisados “325 expedientes”, que incluíam pedidos de informação sobre a administração de botox, de ácido hialurónico e de bioestimuladores e constavam também denúncias. No ano seguinte, em 2023, a ERS realizou “67 ações de fiscalização”. Havia “situações que poderiam pôr em risco a saúde e segurança do utente”, acrescenta a reguladora.
“Complicações graves, como infeções, necrose (morte dos tecidos), cicatrizes indesejadas, entre outros, podem ocorrer se os procedimentos não forem realizados adequadamente por médicos especializados, que são os únicos habilitados para realizar estes tratamentos médicos”, diz o clínico Diogo Figueiredo Gonçalves.
SUSPENDER ATIVIDADE
No ano passado, a ERS identificou 12 estabelecimentos onde havia profissionais não habilitados a prestar cuidados de saúde de estética e aos quais foram aplicados medidas cautelares de suspensão da atividade: seis fecharam voluntariamente de forma definitiva e cinco adotaram medidas para cumprir a lei. Um dos estabelecimentos continua com a atividade suspensa.
Em várias deliberações da ERS constam processos de clínicas de estética a funcionar sem médicos ou médicos dentistas, os únicos que podem realizar estes procedimentos. No último relatório da reguladora, um estabelecimento usava medicamentos e dispositivos médicos para procedimentos de injeção de produtos na pele. Mais tarde, o instituto designou uma médica dentista para assumir a “responsabilidade técnica”.
Toxina botulínica e ácido hialurónico
São os dois procedimentos estéticos “clássicos”, diz o médico Diogo Figueiredo Gonçalves. O botox é um medicamento e é usado em doses pequenas para disfarçar as rugas. Já o ácido hialurónico é uma substância que dá volume e hidratação e que existe naturalmente na pele. O que é aplicado em procedimento estético é sintetizado, ou seja, artificial.
Bioestimuladores de colagénio
De acordo com Diogo Figueiredo Gonçalves e Duarte Salema Garção, os bioestimuladores de colagénio têm sido “amplamente utilizados” e permitem “estimular a produção natural de colagénio”. Podem atenuar as rugas e a flacidez. Além disso, são usados para tratar cicatrizes e estrias.
Tratamentos com exossomas
Os exossomas são pequenas vesículas que, ao serem aplicadas na pele, “transportam informação genética”, diz Diogo Figueiredo Gonçalves. “Têm propriedades regenerativas e reparadoras muito úteis em rejuvenescimento e tratamentos capilares”, explica o membro da direção da Sociedade Portuguesa de Medicina Estética.
Aparatologia
A aparatologia é uma área da estética que utiliza vários aparelhos para diversos tratamentos estéticos, como “a radiofrequência microagulhada, o ultrassom microfocado e os lasers”. Podem tratar uma grande variedade de “preocupações estéticas faciais e corporais”, como as cicatrizes de acne, as estrias e a flacidez, explica Diogo Figueiredo Gonçalves.
Mesoterapia
Na mesoterapia são injetados ácido hialurónico e uma variedade de vitaminas, minerais e antioxidantes na pele, essencialmente no rosto, pescoço, decote e mãos. O objetivo passa por atenuar os sinais de envelhecimento, como as rugas e a flacidez, mas também as cicatrizes, manchas e estrias.
Principais tendências dos procedimentos estéticos
Skinbooster
Trata-se de uma hidratação profunda da pele, por via do ácido hialurónico. Quase como se fosse para impulsionar a “qualidade” da pele. Pode ser injetado em pequenas doses, uma vez que o objetivo é amenizar o rosto e promover uma hidratação que vai além dos cremes. Ao contrário dos preenchimentos dérmicos, no skinbooster, o ácido hialurónico não é colocado para dar volume.
Rinomodelação
É um procedimento menos invasivo que a rinoplastia (cirurgia ao nariz). É injetado ácido hialurónico e hidroxiapatita cálcica (composto sintético) para corrigir pequenas assimetrias e ângulos e elevar a ponta do nariz.