Jornal de Notícias

A Revolução de Abril passou pelo Santuário de Fátima

Há 50 anos, o cardeal-patriarca de Lisboa falou de liberdade e do fim da guerra colonial

- Emília Monteiro locais@jn.pt

Na romagem à Cova da Iria, poucos dias após a Revolução dos Cravos, o cardeal-patriarca de Lisboa, disse aos mais de 250 mil católicos presentes no Santuário de Fátima que era preciso “construir um Portugal melhor”.

“As vozes falam-nos de renovação de pessoas e de intuições, da vida humana partilhada na liberdade e na responsabi­lidade, de conjugação de esforços para construir um mundo novo”, afirmou o bispo, citado pelo jornal “Voz de Fátima”.

No dia da Revolução, os bispos da “metrópole” estão reunidos perto do santuário num retiro de formação. Souberam do avanço dos militares pelo irmão de um dos religiosos que foi de Lisboa a Fátima para dizer aos responsáve­is pela Igreja que a revolução “era pacífica”. “Se é verdade que o 25 de Abril não fez parar o Santuário de Fátima, também é facto que não o silenciou”, disse ao JN Marco Daniel Duarte, diretor do Museu do Santuário.

Nem durante nem após a revolução os fiéis interrompe­ram as visitas à Cova da Iria e na maior peregrinaç­ão, a de 13 de maio, o recinto encheu-se de peregrinos. Numa longa homília, D. António Ribeiro falou aos milhares de católicos na necessidad­e de uma “sociedade pluralista” e disse, várias vezes, a palavra “liberdade”. “Ser livre é ser capaz de escolher, na lucidez da inteligênc­ia serena e na força da vontade reta”, afirmou.

“Esta é a hora de os católicos se empenharem a valer, em pluralismo das opções políticas, no esforço comum de um novo projeto de vida”, frisou o patriarca de Lisboa. Sem medo do “progresso, o bispo pediu aos peregrinos para não terem medo do “confronto com outros pensamento­s, mesmo dos mais progressiv­os”.

A longa homília não esqueceu a guerra colonial. O bispo de Lisboa disse esperar que, “em breve, as espadas e as lanças se transforme­m em instrument­os de paz e de prosperida­de”. “O povo português deseja a paz e pretende estabelecê-la nos território­s do Ultramar, mediante o empenhamen­to e a participaç­ão livres de quantos dela irão beneficiar”, disse D. António.

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