SAI AOS DOMINGUES Queluz de baixaria
Esta semana, fui surpreendida por ver tantas vezes Castelo Branco na Comunicação Social. Tu queres ver que, de repente, se está a dar atenção aos problemas do Interior, nomeadamente o da desertificação populacional da Beira Baixa? Ou é uma grande publicidade sobre a 18.a edição da Feira de Sopas em Proença-a-Velha que termina hoje? (Se nos fizermos agora ao caminho, ainda mandamos para dentro umas colheradas de sopa de matação e dançamos o “Baile de verão” do Zé Malhoa com couve pendurada no bigode).
Mas não. Parece que isto é tudo sobre o José Castelo Branco estar a ser acusado de violência doméstica. Imagino que os que ficaram mais chocados com isto sejam os que, durante anos, apontaram a excentricidade do socialite, e que estão agora muito impressionados com a possibilidade de ter um tipo que se veste de mulher (o que quer que isso seja), a arriar na esposa. Afinal, pode tratar-se de um macho à antiga. E, dado que Betty Grafstein é inglesa, isto deve tê-los confundido ainda mais porque também configura um crime perpetrado por portugueses contra estrangeiros. E agora? André Ventura ainda na semana passada, sobre o espancamento de argelinos na cidade do Porto, achou que talvez os argelinos se tivessem metido a jeito. O que é que poderão dizer neste caso? Que a Lady Betty se calhar também não é santa nenhuma porque passava a vida no cabeleireiro e se fartava de levantar cabelo?
Quando a violência doméstica é dos crimes que mais assolam Portugal e que, só no último ano, matou 30 pessoas, é mais um caso que nos revolta a todos. Sabemos que a prevenção é fundamental e é por isso que os testemunhos de vítimas acabam por fazer muito, seja por quem ainda permanece em silêncio, seja para que toda a comunidade fique mais alerta, tratando-se especialmente de um crime público. Mas a TVI inovou. É que é comum vermos em programas do daytime relatos de sobreviventes, sentadas no sofá e agarradas a lencinhos de papel, mas esta semana foi diferente. Até porque os lenços de papel estão caros e as lágrimas mancham o tecido. Um alegado agressor foi várias vezes convidado a contar o seu lado da história. Foi, inclusivamente, detido a caminho do primeiro direto na estação de Queluz. Foi pena que a TVI não tenha tido essa informação antes porque poderia ter umas motos preparadas para seguir a viatura policial como se fosse o autocarro da seleção e o José Castelo Branco tivesse sido o homem do jogo com um golo do meio-campo.
Como, pelos vistos, a liderança das audiências está a passar muito pelas audiências judiciais, a cobertura deste caso levou a muitos diretos das estações privadas. Mas a realidade é que nenhuma preencheu a grelha de programas como Queluz de Baixo: entrevista exclusiva para o “Jornal nacional” depois de sair dos calabouços da GNR, seguido de entrevista no programa da manhã até a entrevista de sexta-feira à noite a Sandra Felgueiras. Achei mal não ter ido também ao “Querido, mudei a casa” para apertarem com ele sobre o tema da casa de Sintra ou até ao novo programa “A sentença”, que teria sido a instância mais apropriada. E, entre especialistas em linguagem verbal e especialistas em linguagem não-verbal, que nos fizeram companhia nos vários espaços informativos do canal, podiam ter arriscado e apresentado também um especialista em linguagem espiritual. Um tipo qualquer vestido de branco, a tocar umas taças tibetanas e a comentar as várias cores da aura do José Castelo Branco: “Vejo uma cor muito azul, o que indica claramente que José Castelo Branco mente quando diz que a Betty devia ter levado sódio. O que ele queria dizer era que devia ter levado uma solha.”