Jornal de Notícias

Cinema português à conquista de Cannes

Festival francês começa hoje e festeja 77 edições com o cineasta Miguel Gomes na luta pela Palma de Ouro

- João Antunes cultura@jn.pt

SÉTIMA ARTE Em 76 edições, Portugal nunca ganhou a Palma de Ouro de Cannes, um dos prémios mais desejados do cinema. Após 18 anos de ausência na competição, desde que Pedro Costa levou ao certame “Juventude em marcha”, em 2006, o feito pode ser alcançado por Miguel Gomes com “Grand tour”.

Um dos filmes em competição no festival que arranca hoje com “Le deuxième acte”, de Quentin Dupieux, e termina dia 25, “Grand tour” é protagoniz­ado por Crista Alfaiate e Gonçalo Waddington e produzido por Uma Pedra no Sapato. A história começa na Birmânia, em 1917, e desenrola-se a partir do momento em que um funcionári­o público do Império Britânico foge da noiva – no dia em que ela chega para o casamento...

E se “Grand tour” pode trazer para Portugal um prémio que sempre lhe fugiu, já Daniel Soares e o seu “Mau por um momento” pode repetir a proeza de João Salaviza e conquistar a Palma de Ouro das curtas. Produzido por O Som e a Fúria, o filme conta a história de um arquiteto obrigado a encarar a realidade do bairro popular que a sua empresa está a gentrifica­r.

HÁ MAIS SEIS PORTUGUESE­S

Na Quinzena de Cineastas, Paulo Carneiro mostra o documentár­io “A savana e a montanha”, produzido pela Bam Bam Cinema. Assumindo o formato western, relata a luta, que ainda continua, das gentes de Covas do Barroso, em Trás-os-Montes, contra a empresa inglesa que planeia construir ali uma das maiores minas de lítio a céu aberto da Europa.

Nesta secção, juntam-se as curtas “Quando a terra foge”, de Frederico Lobo, coprodução da Terratreme e Rua Escura, também passada em Trás-os-Montes, e “Jardim em movimento”, produzido e realizado por Inês Lima, que acompanha duas guias botânicas que conduzem um grupo de caminhante­s pelo Parque Natural da Arrábida.

Para a Semana da Crítica ficou guardada a curta “As minhas sensações são tudo o que tenho para oferecer”, uma pequena joia de Isadora Neves Marques, produzida por Foi Bonita a Festa, sobre duas jovens amantes que comunicam sensações e pensamento­s telepatica­mente depois de tomarem um pequeno comprimido novo. Se alargarmos a presença portuguesa às coproduçõe­s minoritári­as, há mais duas entradas. Na secção não competitiv­a Cannes Premiere encontra-se “Miséricord­e”, do francês Alain Guiraudie, parceria da Rosa Filmes com produtoras francesas e espanholas, e “Algo viejo, algo nuevo, algo prestado”, segunda longa-metragem do argentino Hermán Rosselli, coprodução da Oublaum Filmes com várias companhias argentinas.

COPPOLA NA COMPETIÇÃO

Não vai ser fácil a tarefa de Miguel Gomes, nem a da presidente do júri, Greta Gerwig, com uma competição que se antevê cerrada. Cabeças de cartaz, Francis Ford Coppola, com o muito esperado “Megalopoli­s”, Paul Schrader, que estreia “Oh, Canada” e David Cronenberg, com a nova provocação “The shrouds”, vão ter a concorrênc­ia de cineastas como Sean Baker, Ali Abbasi, Andrea Arnold, que em paralelo recebe a Carrosse d’Or da Quinzena, Jia Jangzhe, Jacques Audiard, Yorgos Lanthimos, Karim Ainouz ou Paolo Sorrentino.

Entre mais de uma centena de estreias mundiais entre todas as secções, há um foco a recair em Mohamad Rassoulof. Segundo o Centro pelos Direitos Humanos do Irão, a pena de oito anos infligida ao realizador resulta da sua recusa em retirar de Cannes o filme “The seed of the sacred fig”, que está em competição. A ausência de reação de Cannes a mais este atentado à liberdade de expressão pode ser sinal de que o filme será normalment­e exibido.

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Jornal de Notícias 14 de maio
de 2024
“Grande tour”, do cineasta Miguel Gomes com o ator Gonçalo Waddington: um périplo pela Ásia Jornal de Notícias 14 de maio de 2024

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