O Largo dos Loios
Que começou por se chamar de Santo Elói
Há 230 anos (a 30 de abril de 1794), a Câmara do Porto, depois de se ter reunido com a Junta das Obras Públicas, e “em vista ao desenvolvimento que a cidade tomava” ordenou “que se derrubassem as muralhas existentes à sua volta, o que veio a verificar-se pelos anos subsequentes”.
As muralhas atrás citadas, como é geralmente sabido, começaram a ser construídas em 1336, no tempo do rei D. Afonso IV, e só ficaram concluídas em 1376, 40 anos depois, já no tempo de D. Fernando, neto daquele monarca, e daí o nome “fernandinas”. Por vezes , as muralhas também são designadas Cerca Nova ou Muralha Gótica.
Ao longo do seu perímetro, de cerca de 2600 metros, havia várias portas e muitos postigos que possibilitavam a comunicação entre o exterior e a cidade. Os postigos eram simples aberturas no pano da muralha, como foi o caso de um postigo que ficava mesmo defronte da velha Rua das Hortas, que era o nome dado ao atual troço da Rua do Almada, compreendido entre a esquina da Rua dos Clérigos e a esquina com a Rua da Fábrica.
Esse postigo teve várias denominações: Postigo das Hortas, por causa da sua proximidade com a artéria daquele nome; Postigo da Fonte da Arca, por estar perto do chafariz com aquela designação; e, posteriormente, postigo de Santo Elói, desde que os frades Loios (ver caixa) se instalaram na proximidade.
Ora, na sequência da determinação municipal de 30 de abril de 1794, o Postigo de Santo Elói foi demolido, conjuntamente com o pano de muralhas que corria ao longo da atual Rua dos Clérigos, antiga Calçada da Natividade.
O ano de 1815 é dado, por muitos historiadores, como sendo o da demolição do postigo. Mas Artur de Magalhães Basto, o grande historiador do Porto, aponta o ano de 1795 como sendo aquele em que o Postigo de Santo Elói foi efetivamente demolido. Opiniões à parte, do que não há dúvida é de que foi a partir da demolição do postigo que começou a formação do Largo dos Loios.
Em 1815, aí sim, a 2 de setembro, a Junta das Obras Públicas mandou demolir um conjunto de casas que ficavam a norte do postigo, junto ao ângulo da Rua de Trás, para dar amplitude à entrada da nova praça. Por essa altura, também desapareceu uma rua muito antiga, denominada Mendo Afonso (alguém sabe quem foi?) que, partindo de junto do postigo, ia dar “a hum Pateo que he pertença do Hospital de Rocamador”.
Esse pátio ainda existe. Situa-se nas traseiras das casas da Rua dos Caldeireiros que ficam mesmo defronte do atual Largo dos Loios. Acede-se a ele através de um largo e forte portão com padieira em arco. No pátio, ainda hoje podemos admirar a antiga entrada do Hospital de Rocamador.
Anexa ao Hospital de Rocamador, funcionava a Roda dos Expostos, criada pela Câmara, no tempo de D. Pedro II, justificando a iniciativa com o facto de não haver no burgo hospício para receber as crianças abandonadas que eram cada vez mais. O edifício da Roda, diz-nos Luís de Pina, “era de boa cantaria, com sua fachada que tinha ao alto uma cruz e quatro pirâmides de pedra e entre a porta as armas reais e as da cidade”.
Voltemos ao Largo de Santo Elói. Em 1822, já se realizava no amplo logradouro, acabado de criar, um movimentado mercado de queijos e de carne de porco, “retalho”. Nas proximidades, havia outros mercados ou feiras não menos concorridas. Na Praça Nova das Hortas, por exemplo, vendia-se pão e chitas; em frente ao mosteiro das monjas de S. Bento (onde agora está a Praça de Almeida Garrett) fazia-se um mercado de hortaliças, leite e ovos. Um pouco mais abaixo, na Praça de S. Roque, onde agora a Rua do Souto entronca com a Rua de Mouzinho da Silveira, havia um mercado de galinhas e teias de linho.
Entre 1888 e 1889, a Câmara mandou construir, mesmo no centro do Largo dos Loios, um pequeno lago, redondo e circuitado por uma pequena grade de ferro. A ideia do Município era a de “aformosear o sítio”. Mas a ideia não teve sucesso. O povo deu em gozar com o lago que alcunhava de alguidar, insinuando que era aproveitado pelos comerciantes locais de mercearia para demolhar o bacalhau. Outros diziam que era bom “para lavar os pés aos vereadores que moravam por ali perto”, numa alusão à Câmara que funcionava então no edifício da Praça, ali a dois passos. A Câmara acabou por destruir o lago. Nas obras que atualmente decorrem no local, é possível que tenha aparecido “a pia subterrânea” a que alude um documento de 1775, por onde passava a água que ia para o antigo Convento de S. Francisco.