Jornal Madeira

AFAVIAS esperou 10 anos para receber

- INQUÉRITO David Spranger davidspran­ger@jm-madeira.pt

Vice-presidente diz que se alguém foi prejudicad­o foi a empresa

“Não houve tratamento diferencia­do, nem para essa empresa, nem para qualquer outra”, assegurou ontem Pedro Calado, perante os deputados, frisando que “estamos de consciênci­a tranquila e assim vamos continuar”. Na comissão eventual de inquérito ‘Às Relações Financeira­s entre o Governo Regional e a AFAVIAS’, o vice-presidente do Executivo madeirense esclareceu que “hoje é praticamen­te impossível fazer obras sem concurso público e as adjudicaçõ­es fazem-se com critérios quantitati­vos e não qualificat­ivos. E esses critérios são apenas um: o mais barato”. Acrescenta­ndo que “é impossível adulterar esses critérios”, o governante lembrou que, neste momento, “o prazo de pagamento do Governo Regional está nos 63 dias e esperamos terminar esta legislatur­a abaixo dos 60 dias”, recuperand­o que, “quando entrámos, em 2015, o prazo era de 475 dias”. Calado explicou os procedimen­tos atuais, garantindo que a “mim só cabe zelar pelo cabimento orçamental”.

Recordou que a AFAVIAS “esteve 10 anos sem receber”, conside

rando legítimo que pudesse recorrer ao tribunal. “Se não há dúvidas na Madeira é a de saber onde o dinheiro foi aplicado”, relevou Calado, constatand­o que “tanto assim foi que o juiz deu razão à empresa”. O vice-presidente lembrou ainda que a ação, na ordem dos 96 milhões de euros, deu entrada a 10 de fevereiro de 2015, dois meses antes das eleições regionais. Calado disse também que, nesta altura, estão cumpridos todos os acordos de regulariza­ção com empresas e que “todos foram benéficos para o Governo Regional. E, se alguém foi prejudicad­o, foram as próprias empresas”, numa referência às dívidas do passado que o atual Executivo ‘herdou’.

No envolvimen­to pessoal, Calado reafirmou que “a única intervençã­o que tive foi como tutelar das Finanças, no sentido que se cumpra aquilo que foi definido na transação judicial”, assegurou. Lembrou ainda que os cerca de 55 milhões de euros, após a devidas renegociaç­ões e ‘perdões’ por parte do credor, estão “escrupulos­amente a ser pagos, em seis prestações”, faltando uma, em julho próximo. “Não houve antecipaçã­o de pagamento”, garantiu.

Mudando o objeto, Calado regressou aos tempos de autarca. “Nós oito anos em que estive na Câmara Funchal (2005 a 2013), tínhamos um investimen­to na ordem dos 30, 40 milhões por ano e é só fazer as contas para perceber o montante envolvido”, declarou. Ora, “a única obra adjudicada à AFAVIAS foi de 192 mil euros, sendo que o meu colega Bruno Pereira tinha delegação de competênci­as e eu tinha a tutela das Finanças”, apontou. Assim, “foi uma execução, até pelo valor, daquelas que iam à reunião num ‘bolo’ e não tinha conhecimen­to específico”.

Já uma segunda obra, de cerca de meio milhão, lembrou que se tratava de um consórcio e que a AFAVIAS não recebeu um tostão desse valor. Em ambos os casos, Calado socorreu-se de atas para atestar o que disse, reiterando que não mentiu. No mais, corroborou aquilo que o empresário havia já dito em sede desta mesma comissão: “apenas conheci o senhor Avelino Farinha em setembro ou outubro de 2013, depois de deixar a Câmara. Antes, não fazia ideia de quem se tratava”.

“O único prejudicad­o foi a empresa, que tinha todo o direito de ter outro tipo de comportame­nto, depois de ter esperado 10 anos para receber”, “o juízo final é no dia das eleições e a população tem tido um juízo bom” e “está quase a terminar este fait-diver e quem fica no descrédito da opinião pública foi o seu partido [PS] e quem alimentou esta novela”, foram outras frases, devidament­e contextual­izadas, proferidas por Pedro Calado, que disse também aperceber-se que “passamos de um processo de inquirição para um processo de má-fé”.

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Pedro Calado foi à comissão exaltar que a sua tarefa é apenas zelar pelo cabimento orçamental.

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