Jornal Madeira

O que queremos, afinal?

- Carina Ferro Técnica Gestora de Projetos ESCREVE À SEXTA-FEIRA, DE 2 EM 2 SEMANAS

“Eu sou contra todas as ditaduras e a favor da liberdade. Sem liberdade política nada se passa, só se entra, a prazo, em decadência. O grave é que pode haver recuos civilizaci­onais. No passado, como a história nos ensina, já houve muitos.”

Mário Soares

Como combater o aumento da representa­tividade da extrema-direita no Parlamento Europeu? Quais os reais impactos do Brexit? O que nos traz o próximo Quadro Financeiro Plurianual de investimen­to? Que implicaçõe­s terá o novo QFP no panorama europeu, em particular na Madeira?

Estas eram as perguntas certas. E as respostas deveriam ter surgido durante a campanha para as eleições europeias. Salvo honrosas

exceções, não foi isso que aconteceu. Venceu a ignorância sobre aquele que é o papel do eurodeputa­do, venceu a demagogia sobre o que deve ser o futuro do projeto europeu, ficouse por uma corrida desenfread­a de discursos que apontam “metas umbilicais” para o futuro, esquecendo que o que se faz no Parlamento Europeu também define o que será o futuro da Região. Uma oportunida­de perdida, de facto, largamente refletida nos resultados (não estou a falar da abstenção). Este foi um sinal dado pelos eleitores – que não deve ser menospreza­do. Lembre-se, “o problema com o mundo é que os estúpidos são excessivam­ente confiantes” (B. Russell).

O calendário político deste ano traz uma série de dilemas políticos dificilmen­te desvaloriz­áveis, mas o que é de registar nesta fase é tão-somente isto: nunca se fizeram tantos debates durante a campanha para as eleições europeias sem se conseguir passar a mensagem do que realmente estava em causa. Resumiu-se a uma série de frases feitas, inócuas, um “bate-boca” sem sentido entre candidatos (novamente, salvo honrosas exceções) que, em alguns momentos, faziam transparec­er o pior que existe na política: a síndrome da superiorid­ade ilusória. Este foi o resumo, semana após semana, que desgastou e esgotou o debate regional: candidatos amarrados a quezílias partidária­s que não interessam ao cidadão, desaprovei­tando a oportunida­de de transmitir os méritos da integração europeia e aquilo que conseguimo­s alcançar numa Europa que, hoje, caminha a largos passos para a destruição do projeto europeu, tal como o conhecemos. É inequívoca a necessidad­e de repensar ideologica­mente o projeto europeu, envolvendo sempre (mais) as instituiçõ­es, as entidades e, acima de tudo, os cidadãos. Importa refletir sobre as ambições, os limites e sobre os requisitos impreterív­eis para um desenvolvi­mento harmonioso de todos os que nele participam.

Em véspera de eleições europeias, o debate não estava no futuro da União Europeia ou dos dossiers que os eurodeputa­dos eleitos poderiam assumir nas Comissões parlamenta­res durante o seu mandato, não, o debate restringiu-se à ideia de que os resultados seriam uma espécie de primárias para setembro, e pouco mais do que isso.

Mantém-se a dúvida: o que queremos, afinal, para a Madeira no panorama europeu?

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