O que queremos, afinal?
“Eu sou contra todas as ditaduras e a favor da liberdade. Sem liberdade política nada se passa, só se entra, a prazo, em decadência. O grave é que pode haver recuos civilizacionais. No passado, como a história nos ensina, já houve muitos.”
Mário Soares
Como combater o aumento da representatividade da extrema-direita no Parlamento Europeu? Quais os reais impactos do Brexit? O que nos traz o próximo Quadro Financeiro Plurianual de investimento? Que implicações terá o novo QFP no panorama europeu, em particular na Madeira?
Estas eram as perguntas certas. E as respostas deveriam ter surgido durante a campanha para as eleições europeias. Salvo honrosas
exceções, não foi isso que aconteceu. Venceu a ignorância sobre aquele que é o papel do eurodeputado, venceu a demagogia sobre o que deve ser o futuro do projeto europeu, ficouse por uma corrida desenfreada de discursos que apontam “metas umbilicais” para o futuro, esquecendo que o que se faz no Parlamento Europeu também define o que será o futuro da Região. Uma oportunidade perdida, de facto, largamente refletida nos resultados (não estou a falar da abstenção). Este foi um sinal dado pelos eleitores – que não deve ser menosprezado. Lembre-se, “o problema com o mundo é que os estúpidos são excessivamente confiantes” (B. Russell).
O calendário político deste ano traz uma série de dilemas políticos dificilmente desvalorizáveis, mas o que é de registar nesta fase é tão-somente isto: nunca se fizeram tantos debates durante a campanha para as eleições europeias sem se conseguir passar a mensagem do que realmente estava em causa. Resumiu-se a uma série de frases feitas, inócuas, um “bate-boca” sem sentido entre candidatos (novamente, salvo honrosas exceções) que, em alguns momentos, faziam transparecer o pior que existe na política: a síndrome da superioridade ilusória. Este foi o resumo, semana após semana, que desgastou e esgotou o debate regional: candidatos amarrados a quezílias partidárias que não interessam ao cidadão, desaproveitando a oportunidade de transmitir os méritos da integração europeia e aquilo que conseguimos alcançar numa Europa que, hoje, caminha a largos passos para a destruição do projeto europeu, tal como o conhecemos. É inequívoca a necessidade de repensar ideologicamente o projeto europeu, envolvendo sempre (mais) as instituições, as entidades e, acima de tudo, os cidadãos. Importa refletir sobre as ambições, os limites e sobre os requisitos impreteríveis para um desenvolvimento harmonioso de todos os que nele participam.
Em véspera de eleições europeias, o debate não estava no futuro da União Europeia ou dos dossiers que os eurodeputados eleitos poderiam assumir nas Comissões parlamentares durante o seu mandato, não, o debate restringiu-se à ideia de que os resultados seriam uma espécie de primárias para setembro, e pouco mais do que isso.
Mantém-se a dúvida: o que queremos, afinal, para a Madeira no panorama europeu?