Conservatório não é para “ocupação de tempos livres”
CEPAM acredita que alunos devem apostar no ensino artístico especializado de forma empenhada, não para ocupar os tempos livres. E devem ser apoiados pelos seus encarregados de educação.
OConservatório – Escola Profissional das Artes da Madeira observou que teve uma taxa de abandono escolar dos seus alunos no ensino artístico especializado na ordem dos 13, 14%, entre 2014 e 2018, e, como tal, decidiu implementar medidas para contrariar estes valores.
A partir dessa constatação, a equipa de investigação criada pelo seu presidente, Carlos Gonçalves que convidou mais três elementos, o psicólogo da escola Rúben Sousa, o professor Robert Andres e a socióloga Micaela Campanário -, elaborou um estudo, que pretendeu identificar as razões da inscrição neste tipo de ensino e as expetativas dos alunos, para apontar soluções para resolver o problema.
O estudo baseou-se em questionários que foram aplicados aos alunos, aos encarregados de educação (quando os educandos eram menores de idade) e aos docentes da instituição, e algumas das conclusões apuradas levaram o presidente do CEPAM a pôr o ‘dedo na
ferida’ em relação a conceções que acredita estarem “erradas”.
Primeiramente, apontou o facto de mais de metade desses alunos que desistem - cerca de 60% - afirmarem que “querem outro modelo, que é um modelo de atividades livres. Ou seja, não terem que fazer aquela carga horária que o curso certificado, o curso básico de música obriga, e que passa por aulas de instrumento, de formação musical e classe de conjunto”.
“Estamos a falar de seis horas por semana e o que muitos deles querem é apenas aprender a tocar, como ocupação de tempos livres. E o Conservatório não é para ocupação de tempos livres”, assegurou.
A par disso, o responsável complementou que, “60,3% dos encarregados de educação que responderam a este questionário, assumiram que os filhos estão no Conservatório para ocupação de tempos livres, quando o Conservatório não é para ocupação de tempos livres”, insistiu. “Esta conceção tem que ser mudada”, sublinhou.
Por esse motivo, Carlos Gonçalves destacou que, para inverter este cenário de abandono escolar, pais e alunos têm que mudar a forma como encaram o Conservatório. A opção pelo CEPAM “tem que ser para aqueles que realmente querem. Nem sequer estamos a falar de seguir uma profissão ao nível da música, estamos a falar de concluir um curso básico de música, que são cinco anos, e depois seguir a profissão, o curso que quiser”, sustentou.
Estudo sobre o abandono escolar no ensino artístico especializado leva o presidente a defender mais comprometimento
MAIS COMPROMETIMENTO
Outro dos autores do estudo, o psicólogo do Conservatório Rúben Sousa, apresentou ao JM as principais conclusões deste, que já está publicado na Revista Portuguesa de Educação Artística e pode ser consultado em https://rpea.madeira.gov.pt/index.php/rpea/article/vie w/112/124.
Ao nosso Jornal, indicou que “outros dois fatores apontados para a desistência têm a ver com a incompatibilidade de horários, o que terá a ver com as outras atividades extraescolares que o aluno tem e, depois, também a falta de tempo e a desmotivação pessoal do próprio aluno para continuar a investir vocacionalmente na área”.
Um resultado que foi corroborado pelos docentes auscultados, que confirmaram “a fraca motivação do aluno, a incompatibilidade de horários, e acrescentaram uma ou outra situação, que tem a ver com alguma disfuncionalidade ao nível da família na sua capacidade de organizar os tempos livres dos seus educandos”.
Também aqui Carlos Gonçalves considerou relevante realçar que, até pela sua experiência de mais de 40 anos no Ensino, “as crianças e os jovens que têm maior sucesso no ensino artístico são aqueles cujos encarregados de educação se interessam mais em apoiá-las, em motivá-las, em incentivá-la e acompanhá-las”.
“O papel do encarregado de educação é fulcral para o sucesso de qualquer aluno, seja no ensino das artes, seja em qualquer tipo de ensino”, acentuou, lamentando que, pelo contrário, “o que nós sentimos é que, infelizmente, há muitos encarregados de educação que ‘depositam’ os alunos no Conservatório”.
“As artes exigem muito esforço e muita dedicação, muito treino diário, constante. Não basta vir às aulas de música, o aluno tem que ter, todos os dias, um tempo reservado para o estudo das disciplinas do Conservatório”, asseverou.