“Tenho pavor de voltar à rua”
João Aníbal Nóbrega aprendeu a ler em 2011, aos 38 anos. O Ensino Recorrente garantiu-lhe não só a possibilidade de ler jornais, navegar na Internet ou interpretar uma simples fatura como a da luz, mas também de fazer o que mais gosta: ser voluntário. No caso, o ex-sem-abrigo apoia o Centro de Apoio ao Sem Abrigo (C.A.SA).
A história de João Nóbrega cruzou-se com a rua quando se deixou vencer pelas toxicodependências. Perdeu o apoio dos amigos e da família e foi graças à persistência
dos voluntários de algumas associações regionais que, há nove anos, ganhou força para começar de novo.
“Não sei como é que Deus me deu esta coragem. Ainda hoje vivo com o pavor de voltar a cair e de acabar nas ruas”, conta.
‘Um dia de cada vez’. É assim que João sobrevive. Recebe cerca de 190 euros do Rendimento Social de Inserção, paga 150 de casa, alimenta-se com a ajuda do C.A.S.A.
“Um frasco de café tem que me dar para um mês”, refere. Mas, apesar de todas as dificuldades, garante que as lágrimas que lhe caem pela face quando expõe a sua situação são de felicidade, por ter tido a sorte “que muitos não têm”: resistir aos vícios.
Hoje, é no C.A.S.A que renova as forças para se manter sóbrio. A ajuda dos professores e outros voluntários valem “mais do que ouro” e diz finalmente ter descoberto um sítio onde se sente feliz.
João é um dos adultos que, na Madeira, aprendeu a ler graças ao Ensino Recorrente. Este ano, o Ensino Básico abrangeu 800 alunos, a maioria são pessoas já com idade avançada que não tiveram a oportunidade de estudar em idade escolar.
O ‘sucesso’ desta iniciativa no combate ao analfabetismo pode levar a Secretaria Regional a estender a formação ao 2º ciclo. Jorge Carvalho, secretário regional da Educação, garante que a hipótese está em estudo e adianta que a “taxa de analfabetismo na Região é, hoje, praticamente residual”.
O governante participou, ontem, no XXVII Encontro Regional do Ensino Básico Recorrente, na Jaime Moniz, uma iniciativa com muita animação, espetáculos e a entrega de certificados.
João, ex-sem-abrigo, aprendeu a ler aos 38 e, com isso, o direito a sonhar