O Costa do Castelo
“Quem não pode mais nada, o servir também consola” dizia Simplício Costa em “O Costa do Castelo”, de Arthur Duarte, uma das principais obras do cinema português. Por um lado um hino às virtudes do recato pobre, da moral honrada dos humildes, da glória de uma vida precária mas onde existia amor e alegria, mas por outro uma forte crítica social a um regime cuja principal cidade era em 1943 uma capital provinciana, atravessada por varinas, com poucos automóveis e rasgada pelo fosso marcado entre ricos e pobres. Entre histórias de amores correspondidos e apaixonados perdidos, a eterna luta entre o amor puro e o amor interesseiro.
Este Costa, deste novo castelo, loucamente obcecado pela nossa terra, é hoje uma espécie de Isabel de Castelar, uma intriguista e ambiciosa que anda atrás de fortunas. Não há qualquer amor. Há apenas o cumprimento de uma agenda política específica cujo objectivo é fazer derrubar o último bastião ‘laranja’ em Portugal. É esta a sua obsessão. E é este o Costa que se confessa obcecado pela Madeira. E nota-se. São as eternas promessas do financiamento do novo hospital público da Madeira, cujo modelo aponta para muito menos da metade prometida; é a falta de interesse e a desconsideração da necessidade de uma ligação marítima de passageiros entre as ilhas e o território continental; são os contínuos ataques ao Centro Internacional de Negócios da Madeira que põem em causa a confiança junto da UE e consequentemente sustentabilidade da praça; é a pouca ou nenhuma vontade em mexer no subsídio de mobilidade; é a delonga em negociar os valores do empréstimo e os juros cobrados pela República à Madeira, no mínimo, igualando os valores que o próprio país pratica para as suas responsabilidades; mais recentemente todo o imbróglio com a TAP.
Esta semana a transportadora nacional anunciou o fim da chamada ‘tarifa do desporto’. Tratando-se de uma tarifa fixa (que permite às equipas desportivas ou atletas da Região poder viajar com preços e em condições de reserva e emissão de bilhetes de acordo com as especificidades da atividade e o modelo do subsídio
de mobilidade em vigor), a TAP passará a aplicar uma tarifa em função da disponibilidade de lugares em cada voo – logo variável –, considerando que se trata de uma medida “mais favorável” para os clubes e os atletas das regiões autónomas e que estes conseguem encontrar no mercado preços médios mais baratos que o valor actualmente aplicado (285 euros). Ora, se estiverem recordados é precisamente a mesma justificação para os preços exorbitantes cobrados nas passagens de e para a Madeira, defendendo que a média é inferior.
E os clubes e associações desportivas da nossa terra já fizeram contas. E esta alteração do regime da tarifa, implica, por exemplo, que o Marítimo tenha um agravamento imediato das suas despesas, de 1,5 milhões de euros em viagens para cerca de 2 milhões de euros! Sem referir ainda as questões dos atrasos, das alterações nas convocatórias, etc, etc, etc.
O fim da tarifa do desporto é muito grave e põe em causa a própria participação das agremiações regionais em competições nacionais. Num triste regresso ao tempo da ‘velha senhora’, em que não havia equipas insulares a participar nos campeonatos nacionais. E quando isso foi permitido, na época de 1972-1973 o CS Marítimo, para além das suas despesas, ficou encarregue das despesas das viagens das equipas adversárias e das respectivas equipas de arbitragem. Quase meio século depois, o problema volta a colocar-se.
Há que tomar uma posição forte, todos juntos em defesa do desporto regional, para que o Governo da República intervenha junto da TAP (na qual tem ainda metade da participação social) e que reverta esta decisão da companhia. Demos grandes passos na defesa da Autonomia, pelo que não podemos permitir agora este retrocesso vergonhoso, sem qualquer justificação ou compensação que se veja. Cabe ao senhor primeiroministro respeitar a Constituição Portuguesa e respeitar a Madeira e os Açores. Este tacitismo político bem demonstrativo na sua relação com as instituições, prejudica a Madeira e o Porto Santo. Somamse uma série de medidas interrompidas, e uma espera do ‘elan’ de setembro, o que é bem demonstrativo da sua agenda.