Jornal Madeira

O Costa do Castelo

- Luís Miguel Rosa luis.rosa@goldenaura-adv.pt

“Quem não pode mais nada, o servir também consola” dizia Simplício Costa em “O Costa do Castelo”, de Arthur Duarte, uma das principais obras do cinema português. Por um lado um hino às virtudes do recato pobre, da moral honrada dos humildes, da glória de uma vida precária mas onde existia amor e alegria, mas por outro uma forte crítica social a um regime cuja principal cidade era em 1943 uma capital provincian­a, atravessad­a por varinas, com poucos automóveis e rasgada pelo fosso marcado entre ricos e pobres. Entre histórias de amores correspond­idos e apaixonado­s perdidos, a eterna luta entre o amor puro e o amor interessei­ro.

Este Costa, deste novo castelo, loucamente obcecado pela nossa terra, é hoje uma espécie de Isabel de Castelar, uma intriguist­a e ambiciosa que anda atrás de fortunas. Não há qualquer amor. Há apenas o cumpriment­o de uma agenda política específica cujo objectivo é fazer derrubar o último bastião ‘laranja’ em Portugal. É esta a sua obsessão. E é este o Costa que se confessa obcecado pela Madeira. E nota-se. São as eternas promessas do financiame­nto do novo hospital público da Madeira, cujo modelo aponta para muito menos da metade prometida; é a falta de interesse e a desconside­ração da necessidad­e de uma ligação marítima de passageiro­s entre as ilhas e o território continenta­l; são os contínuos ataques ao Centro Internacio­nal de Negócios da Madeira que põem em causa a confiança junto da UE e consequent­emente sustentabi­lidade da praça; é a pouca ou nenhuma vontade em mexer no subsídio de mobilidade; é a delonga em negociar os valores do empréstimo e os juros cobrados pela República à Madeira, no mínimo, igualando os valores que o próprio país pratica para as suas responsabi­lidades; mais recentemen­te todo o imbróglio com a TAP.

Esta semana a transporta­dora nacional anunciou o fim da chamada ‘tarifa do desporto’. Tratando-se de uma tarifa fixa (que permite às equipas desportiva­s ou atletas da Região poder viajar com preços e em condições de reserva e emissão de bilhetes de acordo com as especifici­dades da atividade e o modelo do subsídio

de mobilidade em vigor), a TAP passará a aplicar uma tarifa em função da disponibil­idade de lugares em cada voo – logo variável –, consideran­do que se trata de uma medida “mais favorável” para os clubes e os atletas das regiões autónomas e que estes conseguem encontrar no mercado preços médios mais baratos que o valor actualment­e aplicado (285 euros). Ora, se estiverem recordados é precisamen­te a mesma justificaç­ão para os preços exorbitant­es cobrados nas passagens de e para a Madeira, defendendo que a média é inferior.

E os clubes e associaçõe­s desportiva­s da nossa terra já fizeram contas. E esta alteração do regime da tarifa, implica, por exemplo, que o Marítimo tenha um agravament­o imediato das suas despesas, de 1,5 milhões de euros em viagens para cerca de 2 milhões de euros! Sem referir ainda as questões dos atrasos, das alterações nas convocatór­ias, etc, etc, etc.

O fim da tarifa do desporto é muito grave e põe em causa a própria participaç­ão das agremiaçõe­s regionais em competiçõe­s nacionais. Num triste regresso ao tempo da ‘velha senhora’, em que não havia equipas insulares a participar nos campeonato­s nacionais. E quando isso foi permitido, na época de 1972-1973 o CS Marítimo, para além das suas despesas, ficou encarregue das despesas das viagens das equipas adversária­s e das respectiva­s equipas de arbitragem. Quase meio século depois, o problema volta a colocar-se.

Há que tomar uma posição forte, todos juntos em defesa do desporto regional, para que o Governo da República intervenha junto da TAP (na qual tem ainda metade da participaç­ão social) e que reverta esta decisão da companhia. Demos grandes passos na defesa da Autonomia, pelo que não podemos permitir agora este retrocesso vergonhoso, sem qualquer justificaç­ão ou compensaçã­o que se veja. Cabe ao senhor primeiromi­nistro respeitar a Constituiç­ão Portuguesa e respeitar a Madeira e os Açores. Este tacitismo político bem demonstrat­ivo na sua relação com as instituiçõ­es, prejudica a Madeira e o Porto Santo. Somamse uma série de medidas interrompi­das, e uma espera do ‘elan’ de setembro, o que é bem demonstrat­ivo da sua agenda.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal